Caderno de Resumos: Estudos Linguísticos



Universidade Federal do Paraná
Setor de Ciências Humanas e Letras
Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Letras



Caderno de Resumos


ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS LINGUÍSTICOS




Mesas Redondas
O funcionamento discursivo no espaço do ensino e da mídia

Participantes:
Ana Maria da Silva
Marilia Manfredi Gasparovic
Rosyane Natal

Medidadora: Profa Dra Ligia Negri


O MAR, A SALGA E A ESCOLA: DISCURSIVIDADES SOBRE A FORMAÇÃO DO SUJEITO CAIÇARA


Autor: Ana Maria da Silva
Linha de Pesquisa: Linguagem e Práticas Sociais
Orientador: Gesualda Rasia


              Neste estudo, vinculado ao grupo e pesquisa Estudos do Texto e do Discurso: Entrelaçamentos Teóricos e Analíticos pretende-se observar inicialmente a subjetividade que ocorre por meio do discurso manifestado em uma sociedade caiçara. Ademais, analisar os modos de inserção do sujeito caiçara, do litoral paraense, no espaço escolar, compreendendo os lugares de contradição nos e dos discursos sobre esse sujeito e suas práticas. A análise das sequências discursivas possibilitará a compreensão do modo de constituição do discurso, ou seja, dos processos de subjetivação pela perspectiva do sujeito aluno e a função da escola na vida dele, modificada por expectativas preestabecidas por uma sociedade, ora esperando o contrário ao que a força de uma cultura pode oferecer, ora sendo responsável pelo determinismo que se expressa por meio do discurso. A identidade caiçara cuja principal característica é o cultivo do que advém do mar é foco de discriminação e pretexto para tentativa frustrada de compreensão da realidade escolar. Assim, se constrói, ao longo da história, estereótipos imaginários que podem ser distorcidos do real, do desejo, do empenho e esperança dos sujeitos em questão. Existe uma formação discursiva de adversidade a este povo em relação ao atendimento dos anseios escolares, aos filhos de caiçaras, em detrimento do desempenho dos filhos de imigrantes. O objetivo do trabalho é, portanto, tecer reflexões sobre essas discursividades sócio historicamente constituídas acerca dessa identidade.
              As sequências discursivas serão coletadas em ambiente escolar litorâneo. Serão, portanto, recortes de textos e respostas solicitados por meio de perguntas e comandos de escritas, em que os sujeitos envolvidos na pesquisa são: 1) alunos de 6º e 7º ano; 2) professores e pedagogos; 3) alunos do terceiro ano de Ensino Médio.
              Ao pensarmos a escola como ambiente de encontro social, além de sua função primeira e irrefutável, aprendizagem, observamos que as manifestações culturais, linguísticas ideológicas se encontram e se confrontam nela. Não há como desconsiderar que essa instituição é um Aparelho Ideológico do Estado[1], e, constituindo-se, assim “educa por métodos apropriados de sanções, de exclusão, de seleção, etc. não só os seus oficiantes, mas as suas ovelhas” (ALTHUSSER,1980 p.48). Desse modo, a força ideológica de uma escola, que se (des)une em prol de um objetivo de compartilhar saberes, está em homogeneizar, geralmente, seus alunos para metas capitalistas.
              Numa sociedade como a em questão: litorânea, economicamente pobre e caiçara, não é diferente. Há, nela, uma cultura de prestígio e uma desprestigiada. A escolaridade é sinônimo de atendimento aos anseios econômico-sociais e sendo o Ensino Médio o último nível da Educação Básica mantido pelo Estado, a aspiração ao Ensino Superior, em busca de profissões socialmente privilegiadas,  é indício de sucesso pessoal. Porém, esta mesma escola que determina culturalmente o que é ascensão, também exclui e seleciona por meio do discurso e formações ideológicas: estimula, determina, contribui, destrói ou constrói concepções de dignidade.
              Ao mergulharmos nesse mar de discursos controversos, em que a escola cumpre função diferente e se confronta com seu próprio objetivo oficializado, sentimos a necessidade de materializar esses discursos. Por isso, solicitaremos aos alunos de séries específicas que respondessem aos questionários ou comandos de produção acerca de: i) conceito e concepção de trabalho caiçara, uma vez que os alunos entrevistados do Ensino Médio já são pescadores; ii) desejo de manter-se na profissão dos pais para os menores, que ainda não trabalham. Já ao corpo docente, voz que entendemos representar o discurso escolar, foram lançados questionamentos acerca de: i) visão da conduta do aluno caiçara; ii) a expectativa de profissionalização deste aluno na perspectiva docente.
              Nessas condições específicas, as respostas serão coletadas em duas escolas públicas estaduais, dentre as seis do município de Guaratuba, litoral do Estado do Paraná. Essas instituições oferecem curso Ensino Fundamental, Médio e Normal (Magistério), sendo os alunos do Ensino Médio entrevistados matriculados no período noturno.
              O enunciado é a unidade constitutiva do discurso que nunca se repete da mesma maneira, uma vez que cada ocorrência são estabelecidas por condições de produção diferentes (FERREIRA, 2005). Nessa perspectiva,  por meio da enunciação  é perceptível as diferentes posições assumidas pelos sujeitos no discurso e esta seção do trabalho traz os recortes discursivos de sujeitos, revelando o seu pensar do e sobre o sujeito caiçara no ambiente escolar.
              Geralmente, alunos do 6º e 7º anos do Ensino Fundamental II, que compreendem a idade entre 11 e 13 anos, acompanham seus pais em seus trabalhos, os admiram, pensam em sua profissionalização quando chegarem a fase adulta.
              É inegável o direito de escolarização a todos os cidadãos brasileiros e isso é garantido pela Constituição Federal de 1988, por isso, a escola, enquanto instituição pública, tendo a função social de união, deveria ser o último lugar em que o preconceito e exclusão acontecem. De fato, a segregação é velada em muitos aspectos, ocorre por meio de um discurso ou outro, aqui e ali, como justificativa para problemas complexos, por exemplo.
              “O que ocorre é que o pensamento se concretiza no discurso, e o discurso é a linguagem empregada socialmente, segundo os hábitos culturais do grupo a qual pertencem aquele que fala.” (CHARAUDEAU, 2015, p.27). É perceptível, assim, que as sequências discursivas analisadas são formadas por discursos outros, que estão imbricados em uma atmosfera contaminada de negação do que não atende aos anseios e padrões do capitalismo.
              A sociedade, nesse sentido, sendo a escola parte dela, não aceita aquilo que ela mesma concebe como não aceitável: o pescador, seus filhos, suas esposas e suas mãos machucadas, que simbolizam como é a ocupação de seu espaço social. Não é pretensão deste trabalho eximir nenhum sujeito de suas responsabilidades na (des)construção de ideologias, sejam elas destorcidas ou não. A reflexão inicial está lançada e a partir dela, que também se manifesta pela linguagem e está prenhe de julgamentos e posições, é possível pensar em sentidos, que inegavelmente sempre poderão ser outros.
Palavras-chave: Sujeito caiçara, contradição, subjetividade.

AYLAN KURDI E CHARLIE HEBDO: IMIGRAÇÃO, COMPAIXÃO, INTOLERÂNCIA E MÍDIA

Autor: Marilia Manfredi Gasparovic
Linha de Pesquisa: Linguagem e Práticas Sociais
Orientador: Gesualda Rasia


RESUMO: A imigração, ao longo do tempo, tornou-se um tema polêmico, uma vez que há, historicamente, registros de incontáveis casos de ataques, de censura, de violência física e moral causados pela intolerância aos imigrantes, a qual se faz presente no convívio diário da população e nos discursos disseminados na sociedade. No cenário atual, com a Guerra da Síria[2], é constante a tentativa de fuga dos sírios para países na Europa em busca de proteção para suas vidas e a de suas famílias, mas esse cenário gera posições diferenciadas: mesmo havendo o apoio de parte da população de vários países, muitos cidadãos, não só europeus, mas do mundo todo, se posicionam de forma contrária ao asilo para refugiados. O discurso da rejeição aos imigrantes também é disseminado pela mídia, inclusive no Brasil, o que representa essa realidade complexa e delicada.
No que tange à imigração, um triste episódio comoveu o mundo: o menino sírio Aylan Kurdi[3], de três anos, foi encontrado morto em uma praia na Turquia. A família de Aylan estava fugindo da guerra em um navio que naufragou no Mar Egeu, e apenas o pai do garoto sobreviveu. A foto de Aylan teve grande impacto na mídia, que se compadeceu com a morte de mais uma criança inocente. Entretanto, nem todos os veículos de comunicação reagiram da mesma forma: o semanário francês Charlie Hebdo, por exemplo, publicou três charges em tom satírico sobre a morte da criança:

Fonte: Charlie Hebdo, janeiro de 2016 (Reprodução/Twitter)

Na charge acima, o periódico questiona o que o menino refugiado Aylan teria se tornado se tivesse crescido. A resposta é sugerida na própria charge: um perseguidor de mulheres na Alemanha, país que mais acolheu refugiados.

Fonte: Charlie Hebdo, setembro de 2015 (Reprodução/Twitter)

No primeiro quadro, um homem que lembra Jesus Cristo diz: “A prova de que a Europa é cristã. Os cristãos andam sobre a água. As crianças muçulmanas afundam”. No segundo quadro, o cartaz de propaganda divulga a promoção de duas refeições infantis pelo preço de uma. O texto acima do menino diz: “Cheguei tão perto...”.
            As charges, além de terem gerado polêmica e revolta em muitos cidadãos, também fizeram surgir outras discursividades relacionadas, que demonstram outros posicionamentos sobre o caso, as quais serão apresentadas neste trabalho na condição de enunciados pertencentes ao domínio associado do discurso em tela.
            Outro caso recente que repercutiu em todo o mundo, do qual outras discursividades foram derivadas, foi o atentado[4] ao próprio Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, causado pela publicação de outras charges consideradas ofensivas pelos muçulmanos. Para parte da mídia, a causa do atentado foi a imigração e a questão religiosa implicada, enquanto para outros veículos foi a falta de respeito e de limite por parte do periódico. Pela proporção e pela repercussão mundial, o acontecimento tornou-se um fato discursivo, carregado de memória, visto que, quando materializada a nominalizacão Charlie Hebdo, são remetidas ideias de terrorismo, intolerância, liberdade de expressão/imprensa e religião, isto é, há campos de saberes em constante confronto. O enunciado que tanto circulou em janeiro de 2015, Je Suis Charlie, deu espaço, no Brasil, ao enunciado antagônico Charlie[5] eu não sou mais.
As charges publicadas pelo Charlie Hebdo sobre a morte de Aylan Kurdi uniram dois acontecimentos que giram em torno dos mesmos temas: imigração e a situação dos refugiados, intolerância religiosa e cultural, ódio, compaixão e preconceito.
            Nesse sentido, este trabalho visa analisar as relações discursivas existentes entre a morte do menino e o atentado ao semanário francês por meio de análises, à luz da Análise do Discurso de linha francesa, tanto das representações do menino Aylan Kurdi construídas pela Veja, pela Carta Maior e pelo próprio Charlie Hebdo, quanto do posicionamento desses mesmos periódicos brasileiros em relação ao atentado contra o semanário parisiense ocorrido em 2015. Ressalta-se que não está em pauta, neste trabalho, a cronologia, mas sim o discurso do ódio presente nos dois acontecimentos e as relações estabelecidas entre eles.
            Para tanto, serão analisadas as charges apresentadas acima e sequências discursivas[6] (SDs) retiradas de quatro colunas opinativas: Quem é Alan Kurdi[7]?, escrita por Vlady Oliver e publicada no portal da revista Veja, e O pequenino afogado Ayslan Kurdi nos faz chorar e pensar[8], escrita por Leonardo Boff e publicada no portal da revista eletrônica Carta Maior, as quais discorrem sobre a morte do menino sírio; Ataque covarde e sanguinário contra semanário satírico Charlie Hebdo na França é o maior atentado contra a imprensa na Europa desde a II Guerra Mundial – e infelizmente deve reforçar o sentimento anti-islâmico e anti-imigrantes na União Europeia”[9], escrita por Ricardo Setti e publicada no portal da Veja, e Je ne suis pas Charlie[10], escrita por Rafo Saldanha e publicada na coluna de Leonardo Boff na Carta Maior, as quais comentam sobre o atentado ao semanário francês.
Dessa forma, a proposta deste trabalho é identificar a forma como os dizeres são apresentados, entender como são constituídos os discursos, considerando as condições de produção, e quais os efeitos de sentido gerados a partir dessa constituição, levando em conta o interdiscurso e a memória que circundam os dois acontecimentos.

PALAVRAS-CHAVE: Análise do Discurso. Imigração. Mídia.







O ESTATUTO DA RELAÇÃO FALA/ESCRITA NO DISCURSO PEDAGÓGICO

Autor: Rosyane Natal
Linha de Pesquisa: Linguagem e Práticas Sociais
Orientador: Gesualda Rasia



            Para falar em funcionamento discursivo a partir do quadro teórico da Análise de Discurso, algumas noções são fundamentais, como por exemplo, a noção de sujeito e de sentido. Além disso, as noções estão entrelaçadas, alternando um protagonismo conforme o trabalho de análise se desenrola. No caso do sujeito, ele não é percebido enquanto corpo orgânico, mas sim enquanto corpo simbólico. O simbolismo é inerente aos sujeitos. Graças a essa característica o sujeito pode ocupar lugares discursivos e ser constituído pelos discursos, ou pelos sentidos que emanam de tais discursos. Ao mesmo tempo em que o sujeito se constitui, ele contribui para constituir novos sentidos ou para reafirmar certos discursos. Tal constatação traz à tona a relação entre ideologia e discurso, sendo que este pode ser visto enquanto uma materialidade ideológica. De acordo com Pêcheux (1990), existem vários enunciados possíveis de se dizer, ao mesmo tempo em que outros, impossíveis de serem ditos, se opõem aos enunciados possíveis. A este “possível de ser dito” Pêcheux chama de “zona do dizível”. Por estar imerso nesta zona é que o sujeito acredita estar sob total controle daquilo que diz. Os limites da zona do dizível são a (s) formação (ões) discursiva (s) às quais o sujeito se filia. O processo de formação dos sentidos está relacionado, portanto, à formação discursiva com a qual o sujeito se identifica e a partir dela “acessa” determinados saberes e produz seus enunciados. Com base nestas noções, compreendemos, em Análise de Discurso, que o sentido de um discurso não existe em si mesmo, mas sim está determinado pelas posições ideológicas e, portanto, pelas condições históricas na qual o discurso foi produzido. Com isto, podemos dizer que trabalha-se, em Análise de Discurso, com efeitos de sentido, já que a construção do sentido se dá em relação a fatores históricos.
Orlandi (1996) comenta sobre a existência de três tipos de discurso: o lúdico, o polêmico e o autoritário. O discurso pedagógico seria autoritário. Segundo a autora, “no discurso autoritário o referente está ‘ausente’, oculto pelo dizer; não há realmente interlocutores, mas um agente exclusivo, o que resulta na polissemia contida” (p.15). Neste sentido, no contexto ensino-aprendizagem, o discurso do professor emana como algo que o aluno deve apreender. O dever está ligado ao fato de que, em sala de aula, se estabelece uma relação de poder (do professor para o aluno) e a busca pela apreensão dos discursos é parte da tentativa que o aluno faz de ‘pertencer’ a uma formação ideológica acadêmica. Com isso, o discurso pedagógico sustenta a construção de um discurso em vias científicas. No caso específico do período em que o aluno passa pelo processo de alfabetização estas noções também se aplicam. A apreensão da linguagem escrita é considerada um trabalho, pois é necessário que o faça, e é necessário que este trabalho resulte na transformação do aluno em um sujeito que domina a linguagem escrita. Em tese, o discurso pedagógico é um “discurso neutro que transmite informação” (p. 29) e do qual qualquer um pode fazer parte, sem tensionamentos. No entanto, nas condições de produção da sala de aula, vê-se um discurso predominantemente autoritário, que afasta o outro da possibilidade de compartilhamento.  E é sob estas condições de produção que o ensino da língua escrita ocorre.
Muitas são as possibilidades de abordagem e problematização deste processo. A abordagem aqui proposta inclui um recorte que abrange as formas como a relação fala/escrita afetam o processo de alfabetização. Analisa-se quais efeitos de sentido emanam dos discursos dos professores e de que forma esses efeitos de sentido corroboram para uma dicotomia da relação fala/escrita. Em outras palavras, a proposta é analisar o discurso de professores e pedagogos (discurso pedagógico) a respeito da “relação fala/escrita” materializada nos textos infantis a fim de compreender se tais discursos produzem um sentido de cunho positivo ou negativo a respeito desta relação. Como consequências, pode-se levantar uma discussão sobre o estatuto da relação fala/escrita e os métodos de análise do texto infantil, ou seja, o que se valoriza na produção escrita da criança no âmbito do discurso pedagógico e, também, levantar aspectos teóricos que contribuam para uma concepção de escrita como trabalho discursivo, em oposição à ideia de escrita perfeita, e que contribuam para uma discursão teórica sobre o discurso da escrita e sua historicidade.
Esta proposta de pesquisa foi motivada por dois aspectos: profissional, como fonoaudióloga da Prefeitura Municipal de Curitiba, e acadêmico, na ocasião em que fui aluna do Programa de Pós Graduação em Letras da UFPR. Como fonoaudióloga, uma de minhas atribuições é percorrer escolas da rede municipal de ensino verificando as queixas dos profissionais da educação em relação à aquisição da linguagem escrita por parte de seus alunos. A demanda para uma avaliação fonoaudiológica voltada para a fala tem sido exorbitante e, na maioria das vezes, os encaminhamentos justificam-se com o fracasso da criança em relação à aprendizagem da escrita. Tais queixas apontam para a necessidade de pesquisas que favoreçam uma análise de textos focada no discurso e não apenas na ortografia. Importante ressaltar que não pretendo questionar se as crianças apresentam ou não dificuldades na compreensão do sistema fonológico do português brasileiro devido a alterações na fala. Meu foco permanece, por hora, sobre o discurso dos profissionais da educação.
Por se tratar de uma pesquisa de caráter subjetivo e qualitativo, desenvolvida no interior da perspectiva da Análise de Discurso, as perguntas de pesquisa previamente formuladas serão testadas a partir da análise dos textos que, por sua vez, serão identificados como “discurso pedagógico”. Algumas destas perguntas estão relacionadas ao estatuto que tem a relação fala/escrita no interior de um discurso pedagógico, por exemplo: o discurso pedagógico produz sentidos que rechaçam ou aproximam a oralidade da escrita? O discurso pedagógico produz sentidos que corroboram com uma idealização da escrita enquanto decodificação da fala? O discurso pedagógico produz sentidos que corroboram com a ideia de escrita pura e perfeita? O discurso pedagógico produz sentidos que levam à que ideia de língua? O discurso pedagógico produz um sentido que compreenda a fala e a escrita enquanto instâncias discursivas?

Palavras-chave: Discurso pedagógico; linguagem escrita; relação fala/escrita.




Mesa Redonda: Aplicando as teorias da Pragmática

Participantes
Bárbara Pilati Lourenço
Marina Xavier Ferreira

Medidador: Doutorando André Luiz de Oliveira Almeida
Bárbara Pilati Lourenço[11]

Linha de pesquisa: Linguagem e práticas sociais
Orientadora: Profa Dra Elena Godoi

Palavras-chave: Publicidade. Pragmática. Polidez Linguística. Teoria da Relevância. Princípio de Cooperação.

Brown e Levinson (1987) publicaram em 1978 um marco nos estudos da polidez linguística: Politeness: Universals of language in usage. Para os autores, o fenômeno é conceituado como social e segue o Princípio de Cooperação de Grice (1975). Segundo Kádár e Haugh (2013, p.13), “de acordo com Grice, os interlocutores descobrem o que os outros querem dizer, embora não necessariamente dizendo, de uma forma fundamentada em princípios, baseada em expectativas normativas sobre comunicação”[12] (todas as traduções são nossas).
O modelo teórico de Brown e Levinson tenta dar um caráter universal à polidez, no entanto, testes empíricos têm demonstrado que algumas das estratégias de manutenção de face e até mesmo algumas características como a própria face individual do ouvinte ou do falante não são aplicadas a todas as culturas, o que tem gerado críticas ao modelo teórico selecionado. Entretanto, nenhuma nova pesquisa no campo da polidez parece ter suplantado as proposições de Brown e Levinson (1987).
Mais contemporaneamente, alguns pragmaticistas têm procurado apresentar uma aproximação da polidez, que dá ao fenômeno um enfoque social, da teoria da relevância (TR, doravante), cuja abordagem cognitivista parece conseguir apresentar uma boa alternativa para as diferentes avaliações de polidez em ambientes interculturais, compreendendo-as como uma forma estratégica de comunicação, que pode possuir características individuais e criativas do falante. Contudo, estudos dessa natureza ainda são incipientes.
De forma sucinta, nosso objetivo geral é aproximar a teoria da polidez linguística da teoria da relevância, criando uma interface entre os vieses social e cognitivista. Já os objetivos específicos são: analisar os processos inferenciais, com base na TR, que implicam em avaliações de (im)polidez do público nas peças publicitárias denunciadas ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar, doravante) selecionadas em nosso corpus; analisar a estrutura de anúncios publicitários e suas caraterísticas multimodais e promover uma breve revisão bibliográfica a respeito da teoria da polidez e da impolidez.
Para tanto, selecionamos um corpus de peças publicitárias. A ideia da escolha de dados de tal gênero se dá pelo contato cotidiano que temos com a publicidade de forma bastante contundente. A linguagem de ambas é muito particular e rica, cuja característica principal é a criatividade, o que faz com que diversos recursos possam ser aplicados a esse tipo de comunicação.
Vestergaard e Schroder (2004, p.1) descrevem o gênero com apenas um termo, propaganda, mas a distinguem em dois tipos: a não comercial e a comercial. A não comercial engloba, por exemplo, “a comunicação entre órgãos governamentais e cidadãos [...] ou os apelos de associações e sociedades com finalidades caritativas ou políticas”. Já a propaganda comercial divulga informações e promove bens e serviços que podem ser comercializados.
Para que haja um interesse na aquisição de tal bem de consumo, ele deve parecer atraente para o seu consumidor. Dessa forma, para Haug (1996), as mercadorias possuem uma estética inerente ao produto, como seu design, aroma ou cores. Nesse contexto, para Vestergaard e Schroder (2004, p.10) “a publicidade contribui para que os produtos pareçam esteticamente o mais agradável possível como também o anúncio se converte em uma realização estética”. Carvalho (1996, p.12) resume a função da publicidade da seguinte forma: “o que cabe à mensagem publicitária, na verdade, é tornar familiar o produto que está vendendo, ou seja, aumentar sua “banalidade”, e ao mesmo tempo valorizá-lo com uma certa dose de diferenciação, a fim de destacá-lo da vala comum”.
Para Vestergaard e Schroder (2004, p.10), como a propaganda tem uma função estética, “os anúncios podem ser analisados por meio de técnicas geralmente aplicadas às artes verbais e visuais”. Leech (1969, p.66), completa que, por esses motivos, a propaganda faz parte do gênero “subliterário”. Dessa forma, Dias e Gusso (2015, p.41) caracterizam a propaganda dentro dos gêneros multimodais, os quais “geralmente apresentam uma variedade de elementos não verbais que se inter-relacionam com a mensagem verbal”. Assim sendo, a análise imagética, como também a textual, são relevantes para os nossos estudos, que envolverão a recepção da mensagem publicitária e os estudos de polidez linguística.
Os anúncios de nosso corpus advêm de denúncias recebidas pelo Conar. Ele é uma organização não-governamental fiscalizadora da ética na publicidade comercial do Brasil. Surgiu em 1978, por iniciativa da classe dos publicitários e recebe denúncias que podem ser feitas por qualquer pessoa que se sentir lesada ou ofendida por uma campanha publicitária.
Nessa apresentação preliminar, incluímos os cinco anúncios publicitários pré-selecionados como nosso corpus até o momento, cujo tratamento analítico por meio da teoria da polidez e da TR será realizado posteriormente.

Figura 1 - AMBEV – ESQUECI O NÃO EM CASA
Acesso em: 18/10/2016

Figura 2 - EDITORA MINUANO - CASAR COM UMA MULHER QUE NÃO COBRA, NADA DISSO, NÃO TEM PREÇO!
Acesso em: 18/10/2016


Figura 3 - JETCO - VOCÊ PODE NÃO SER O PRIMEIRO. MAS ISSO IMPORTA?
Fonte: Imagem cedida pelo Conar.

Figura 4 - ROBERTO MIRANDA MOREIRA - EIRELI - EPP (CABO BRANCO OUTDOOR) - O FUTURO DAS NOSSAS CRIANÇAS NÃO PODE MORRER NA PRAIA
Disponível em: <http://s2.glbimg.com/aghorbnzwz28dx_5omcbrjwjtuc=/i.glbimg.com/og/ig/infoglobo1/f/original/2015/10/18/malgosto.jpg>.
Acesso em: 18/10/2016

Locução
Técnica

Locutor 1 (voz masculina): Alô?
Locutor 2 (voz masculina): Ô seu Paulo. Só pra avisar que não deu pra terminar a parte elétrica hoje não.
Loc 1: Mas tinha o dia todo. Que que aconteceu?
Loc 2: Na hora de subir no forro, a bendita não me deixou. Na hora de passar o conduíte, a bendita me atrapaiô, sô. E puxar o fio com a bendita... sem chance.
Loc 1: Mas quem é essa tal de bendita?
Loc 2: A bendita cachaça, seu Paulo.
Locutor 3 (voz masculina): Obra já tem problema demais. Na hora de tubos ou forros de PVC, vá de Wasser.
Efeito sonoro: telefone tocando












Trilha sonora em background.
Transcrição 1: Spot da Wasser:
Fonte: Áudio cedido pelo Conar.

METODOLOGIA: A pesquisa realizada nesta dissertação terá caráter qualitativo, exploratório, proporcionando mais familiaridade com o tema abordado, buscando maior explicitação do objeto. Primeiramente, será executada uma pesquisa do tipo bibliográfica, na qual analisaremos as características da publicidade e propaganda, sua linguagem e características multimodais. Posteriormente, abordaremos os estudos da polidez, especialmente de Brown e Levinson (1987) e a teoria da impolidez, de Culpeper (2001). Na sequência, faremos uma aproximação da polidez da TR, de Sperber e Wilson (1986, 1997, 2004), Wilson (1993) e Wilson e Sperber (2002, 2005) tentado fazer uma interface inovadora no estudo da polidez, buscando um viés cognitivista em uma teoria social.
Em seguida, será promovida uma pesquisa documental, cujo objetivo é levantar peças publicitárias que foram denunciadas ao Conar, portanto, consideradas ofensivas por membros do público. Nelas serão procurados elementos – verbais e não verbais - que as fazem ser consideradas impolidas. Por fim, será efetuada uma análise dessas peças publicitárias. Os anúncios receberão tratamento analítico, com base nos textos selecionados na pesquisa bibliográfica. Há o intuito de elucidação do caminho inferencial feito pelo ouvinte na avaliação de polidez da peça publicitária.
BROWN, Penelope.; LEVINSON, Stephen. Politeness: some universals in language usage (1978). Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
CARVALHO, Nelly. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 2000.
CULPEPPER. Jonathan. Impoliteness: using language to cause offense. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.
DIAS, Luzia Schalkoski; GUSSO, Angela. Mari. Análise multimodal das estratégias de polidez em campanhas de doação de sangue do Ministério da Saúde. In: WORKSHOP INTERNACIONAL DE PRAGMÁTICA, 2. Curitiba, PR. Anais... Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2015. p. 40-53. Disponível em: <http://files.workshopinternacional.webnode.com/200000397-79cec7bc33/E-book%20II%20WIP.pdf>. Acesso em: 14/04/2017.
GRICE, Hebert Paul. Logic and Conversation. In: COLE, Peter; MORGAN, Jerry L. (Ed.). Syntax and Semantics 3: speech acts. New York: Academic Press, p.41-58, 1975.
HAUG, Wolfgang F. Crítica da estética da mercadoria. São Paulo: Editora UNESP, 1996.
KÁDÁR, Dániel Z.; HAUGH, Michael. Understanding Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.
LEECH, Geoffrey. N. A linguistic guide to English Poetry. Londres: Longman, 1969.
SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance: Communication and Cognition. Oxford: Blackwell, 1986.
SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Remarks on relevance theory and the social sciences. Multilingua, v.16, p.145-51, 1997.
SBERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevance Theory. In: HORN, L.; WARD, G. (Eds.). The handbook of Pragmatics. Londres: Blackwell, 2004, p. 607-632. Disponível em: <http://www.dan.sperber.fr/?p=93>. Acesso em: 19/5/2013.
VESTERGAARD, Torben; SCHRODER, Kim. A linguagem da propaganda. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
WILSON, Deirdre. Relevance and Understanding. Pragmalinguistica, v.1, p. 335-366, 1993.
WILSON, Deirdre; SPERBER, Dan. Relevance theory. UCL Working Papers in Linguistics, v.14, p. 249-290, 2002. Disponível em: <http://www.phon.ucl.ac.uk/publications/WPL/02papers/wilson_sperber.pdf>. Acesso em: 26/12/2016.
WILSON, Deirdre; SPERBER, Dan. Reply to Rajagopalan. Intercultural Pragmatics, v. 2, n. 1, p.99-103, 2005.


A MOTIVAÇÃO COMO GATILHO PRAGMÁTICO NA
AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS

Marina Xavier Ferreira
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Elena Godoy
Linha de pesquisa: Linguagem e Práticas Sociais


Palavras-chave: Pragmática, Aquisição, Relevância, Motivação, Língua adicional.

Resumo: Muitos estudos trazem a motivação como um dos principais fatores na aquisição de línguas. Em consonância, Sperber e Wilson (2001) atribuem a Relevância como um dos principais fatores para que ocorra a comunicação, levando em conta os conhecimentos de mundo do indivíduo, os conhecimentos dos interlocutores e o contexto (mental/social) em que tudo isso ocorre. Assim, nosso objetivo foi verificar a relação entre Motivação e Relevância, suas propriedades e consequências ao se adquirir uma língua adicional. Para tanto, utilizamos como referencial teórico Deci e Ryan (2000), Alonso Tapia (2005), Schwartz (2014), Sperber e Wilson (2001), entre outros. Como o estudo ainda está em andamento, nossas conclusões são parciais, mas pudemos perceber que a Relevância e a Motivação estão interligadas na aquisição de línguas, e que o tipo de motivação existente naquele momento da aquisição pode depender da Relevância.


Introdução

A motivação é conhecida no senso comum como uma força interna que cada indivíduo possui que auxilia na realização de alguma tarefa a fazer. Para a psicologia a motivação é descrita como um “complexo de fatores intrínsecos e extrínsecos (instintos, necessidades, impulsos, apetências, homeostase, libido e outras variáveis intervenientes) que determinam a atividade persistente e dirigida para uma finalidade ou recompensa”. (CABRAL; NICK, 2006, p.211). Assim, os estudos da motivação em suas diferentes áreas são baseados nas pesquisas da psicologia, ou seja, em uma abordagem cognitiva. Nos estudos de ensino-aprendizagem também se fala de motivação, em que o aluno deve estar motivado a aprender e o professor deve estar motivado a ensinar, assim como nos estudos de aquisição de línguas. Por conseguinte, os estudos de motivação na aquisição de línguas adicionais tem tomado um viés social, baseado na identidades. Ou seja, cada área de estudo visa um elemento, social ou cognitivo, sem levar em conta as falhas que essas escolhas podem deixar.
Quando estudamos uma língua adicional, estão envolvidos muitos elementos, tanto os sociais como os cognitivos, e dentre eles a motivação. Nas pesquisas pragmáticas, um dos elementos importantes para que a comunicação ocorra é a Relevância. A Relevância, segundo Sperber e Wilson (2001), é uma propriedade cognitiva individual que rege a comunicação, tanto em seus aspectos cognitivos como nos sociais. Só prestamos atenção no que nos é relevante. Deste modo, acreditamos que nos estudos de línguas, assim como a motivação, a Relevância faz parte do processo de aquisição de uma língua, sendo uma propriedade importantíssima para o ensino-aprendizagem, como para a posterior aquisição da mesma.
Desta forma, propomos o estudo da relação entre a motivação e a Relevância na aquisição de línguas, buscando encontrar também as implicações desta relação na sala de aula. Ressaltamos que nossa pesquisa está em andamento, portanto as discussões e conclusões apresentadas neste texto ainda são iniciais, podendo ser complementadas até o fim da pesquisa.

Materiais e Métodos

O presente estudo é composto de um levantamento bibliográfico das teorias motivacionais, desde os teóricos da psicologia (Maslow, 1943; Deci e Ryan, 2000), passando pelos teóricos do ensino (Tapia, 2005; Schwartz, 2014), até chegar aos teóricos que estudam a motivação no campo de aquisição de línguas (Gardner, 1959, 2009; Ellis, 1994; Dörnyei, 2010; Norton, 2015), e suas relações com a pragmática. Como base teórica, utilizamos as pesquisas atuais de Deci e Ryan (2000), que dividem a motivação em intrínseca, extrínseca e amotivação, sendo que a motivação extrínseca é subdividida em graus de autodeterminação, dependentes dos motivos a que se propõe a ação.
Como aporte teórico, nos estudos pragmáticos, utilizamos principalmente a Teoria da Relevância (2001) de Sperber e Wilson. Segundo os autores qualquer regra conversacional é dependente da Relevância, uma propriedade cognitiva que orienta a comunicação. A Teoria da Relevância (TR) postula basicamente que prestamos atenção apenas ao que nos é relevante, e o que nos é relevante é dependente de nossos conhecimentos de mundo, nossas crenças e valores e do contexto (mental/social) em que a comunicação ocorre. A TR também propõe o princípio de relevância, um princípio mental próprio do ser humano que todo processamento inferencial é regido por uma regra, que seria esse processamento exigir o menor esforço possível para conseguir um maior efeito cognitivo.
Se considerarmos que o processo de ensino-aprendizagem também depende desta exigência mental de menor esforço e maior efeito, percebemos que ele não segue esse principio natural de relevância dos seres humanos, pois quando aprendemos algo, por mais relevante que seja, fazemos um grande esforço. Assim, o que aprendemos nos é relevante apenas se este esforço cognitivo desprendido gere um grande efeito. Acreditamos que o mesmo ocorre com a aquisição de línguas.
Após o levantamento bibliográfico dos teóricos de motivação, e o embasamento teórico da TR, pudemos iniciar nossas pesquisas tentando encontrar as relações entre a Relevância e a motivação para a aquisição de línguas.

Discussão

Diante do levantamento bibliográfico das teorias motivacionais, pudemos perceber que alguns teóricos levam em consideração muitos fatores pragmáticos em suas pesquisas (Tapia, 2005; Schwartz, 2014), como o conhecimento prévio do aluno, suas afetividades, e o contexto em que estão inseridos. Isso nos leva a afirmar que muitos pesquisadores instintivamente (e não intencionalmente) já consideram que fatores pragmáticos estejam relacionados com os estudos de aquisição de línguas.
Acreditamos que a teoria de Deci e Ryan (2000) nos ajuda a compreender melhor vários elementos da motivação, bem como vai ao encontro dos elementos traçados em nossa pesquisa.
A partir das leituras apresentadas, podemos afirmar, de forma preliminar, que a motivação torna-se de certa forma dependente da Relevância, pois: a) se o aluno estiver motivado a aprender uma língua, e se lhe é relevante aprender, por conseguinte haverá a aprendizagem do conteúdo e, logo, a posterior aquisição. Isso nos leva a pensar que a motivação neste caso poderá ser intrinseca; b) se o aluno não estiver motivado a aprender o conteúdo proposto, mas lhe for relevante aprender aquilo por qualquer motivo, seja pela nota, porque irá ser avaliado em trabalhos e provas, porque precisa passar de ano, ou até mesmo porque passou a gerar um leve interesse na matéria, a aprendizagem acontecerá, mas de certa forma, de maneira extrínseca; c) se o aluno não estiver motivado a aprender, e também não lhe é relevante aprender aquilo, ou mesmo ir à aula, ele não completará a ação, estando em um estado de não-motivação, o que não gera a ação; d) por fim, acreditamos ser impossível a hipótese de haver motivação e não haver relevância, pois quando estamos motivados para algo, automaticamente nos é relevante, o que torna esta hipótese nula.


Conclusão

Como dito acima, nossa pesquisa ainda está em andamento, por isso nossas discussões são preliminares. Mas podemos concluir por hora que a motivação e a Relevância estão relacionadas, e que esta relação interfere na aquisição de línguas adicionais. Se o aluno estiver motivado para aprender a língua, fazer os exercícios, e as atividades necessárias, todas estas atividades lhe serão relevantes, o que nos permite pensar que a aquisição da língua acontecerá. Se o estudante não estiver motivado, mas lhe for relevante, estes motivos serão externos (podendo tornar-se internos posteriormente), por isso são relevantes, porque por mais que a vontade de realizar a ação seja baixa ou nula, a obrigação de realizar a ação torna-se mais importante. Se o aluno não está motivado e tampouco lhe é relevante realizar as tarefas, aprender a língua em si, ele dificilmente terá sucesso na aprendizagem da língua adicional, de sua cultura e seus aspectos sociais, assim como dificilmente ocorrerá a aquisição da mesma.

Referências

CABRAL, Álvaro; NICK, Eva. Dicionário técnico de psicologia. 14ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 211.

DÖRNYEI, Záltan. Researching motivation: From integrativeness to the ideal L2 self. In S. Hunston & D. Oakey (Eds.), Introducing applied linguistics: Concepts and skills. London: Routledge, 2010, p.74 – 83. Disponível em <http://www.zoltandornyei.co.uk/ uploads/2010-dornyei-routledge.pdf>. Acesso em 19/12/2016.

ELLIS. Rod. The study of second language acquisition. New York: Oxford, 1994.

GARDNER, Robert C., LAMBERT, Wallace L. Motivational variables in second-language acquisitionCanadian Journal of Psychology, Volume 13, n. 4,1959 , p. 266 – 272. Disponível em < http://files.eric.ed.gov/fulltext/ED031968.pdf>. Acesso em 05/01/2017.

GARDNER, Robert C. Gardner and Lambert (1959): Fifty Years and Counting. Ottawa: Canadian Association of Applied Linguistics, 2009. Disponível em: <http://publish.uwo.ca/~gardner/docs/CAALOttawa2009talkc.pdf>. Acesso em 05/01/ 2017.

NORTON, Bonny.  Identity, Investment, and Faces of English Internationally. Chinese Journal of Applied Linguistics (Quarterly), Vol. 38, no. 4, 2015, p. 375 – 391. Disponível em < http://faculty.educ.ubc.ca/norton/Norton%20in%20CJAL%202015% 20published.pdf>. Acesso em 15/05/ 2016.

RYAN, Richard M.; DECI, Edward L.  Intrinsic and Extrinsic Motivations: Classic Definitions an New Directions. Contemporary Educational Psychology 25, 2000, p. 54 – 67. Disponível em <https://mmrg.pbworks.com/f/Ryan,+Deci+00.pdf>. Acesso em 12/01/2017.

SCHWARTZ, Suzana. Motivação para ensinar e aprender: teoria e prática. Petrópolis: Vozes, 2014.

SPERBER, Dan; WILSON, Deidre. Relevância: comunicação e Cognição. Tradução de Helen Santos Alves. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

TAPIA, Alonso. Motivación para el aprendizaje: la perspectiva de los alumnos. In.: Ministerio de Educación y ciencia. La orientación escolar en centros educativos. Madrid: MEC, 2005, p. 209 – 242.

Comunicações Individuais


PDE DE PORTUGUÊS: PROPOSTAS PARA ENSINO DE GRAMÁTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Linha de pesquisa - Estudos gramaticais
Aline Deosti (Doutorado Letras - Linguística - UFPR)
Dra. Maria José Gnata Foltran (Orientadora - UFPR)


            Este trabalho tem por objetivo detalhar o corpus para a minha pesquisa de doutorado e apresentar algumas análises iniciais dessa pesquisa. O corpus da tese está circunscrito às Produções Didático-Pedagógicas produzidas pelos professores de português do ensino básico do Estado do Paraná que participaram do Programa de desenvolvimento educacional (PDE) no período de 2007 a 2014. Em especial, serão feitas análises das produções didático-pedagógicas que se propuseram a discutiro ensino de gramática na disciplina Língua Portuguesa. Essas propostas serão analisadas à luz de reflexões recentes sobre o ensino de gramática, a fim de se avaliar se há ou não um caráter inovador. Além disso, será observada a adequação das atividades tendo em vista os recortes gramaticais apresentados nesses trabalhos. Como literatura de apoio, oriento-me por trabalhos contemporâneos que discutem o tema, como Borges Neto (2012), Bosque e Galego (2016), Foltran (2013) e Perini (2016).
            O PDE foi um programa implementado pelo Governo Estadual do Paraná no ano de 2005 com o objetivo de oferecer formação continuada aos professores de todas as disciplinas da Rede Pública Estadual de ensino do Paraná no espaço escolar. De acordo com o documento síntese do PDE, o Programa busca fortalecer a articulação entre Educação Básica e o Ensino Superior por meio de estudos, discussões teórico-metodológicas em atividades nas Instituições de Ensino Superior e por meio de um projeto de intervenção pedagógica na escola (PARANÁ, 2012).
            A partir de estudos e discussões orientados por um professor deInstituição de Ensino Superior, o professor PDE precisava elaborar a Produção Didático-Pedagógica para implementar em uma escola da rede estadual de ensino. Essa produção deveria ser um material didático que apresentasse uma orientação teórica pertinente e desenvolvesse propostas de atividades relacionadas à área de ingresso no programa.
            Nesse sentido, a Produção era destinada a contribuir com o aprimoramento da prática pedagógica na escola.
            Desde o início da vigência do PDE, em 2006, somam-se 11386 (onze mil trezentos e oitenta e seis) Produções Didático-Pedagógicas, e em língua portuguesa um total de 2035 (duas mil e trinta e cinco) Produções. Como parte da minha pesquisa de doutorado, realizei a classificação das Produções da disciplina de língua portuguesa de acordo com os assuntos principais das atividades didáticas. A partir disso, cheguei a um total de 97 (noventa e sete) Produções destinadas ao ensino de algum tópico gramatical.
            A partir das primeiras análises das Produções-Didático Pedagógicas (doravante PDP) de língua portuguesa que tratam da gramática, realizei uma subclassificação dessas PDPs em: semântica, morfologia, sintaxe, variação, interface e ensino de língua materna.
            Dentre essas Produções, somente uma se dedicou ao estudo da sintaxe. Trata-se de um trabalho de 2010 que trouxe à baila o estudo das orações adjetivas. Essa Produção Didático Pedagógica cujo título é "Orações adjetivas e o ensino: perspectiva funcionalista" tem por objetivo "trazer novas perspectivas referentes ao ensino de gramática, de forma particular das orações adjetivas e dos pronomes" (Dezorze, 2010, p.3). Fundamentada na perspectiva funcionalista, esta produção busca analisar a língua em uso, conforme a fundamentação teórica assumida pela autora. Assim, defende que "'o estudo da língua deve dar-se paralelamente ao estudo da situação comunicativa" (Dezorze, 2010, p.4). Essa Produção Didático-pedagógicaapresenta quatro conjuntos temáticos de atividades destinados ao 1º ano do Ensino Médio: pronomes relativos, pronomes interrogativos, orações adjetivas e oração adjetiva cortadora.
            Na atividade I, sobre pronomes relativos, Dezorzi inicia o trabalho com explicações que definem pronome e pronomes relativos, e também explica as formas e o os empregos dos relativos. Na sequência, propõem-se dois exercícios para que os alunos observem duas charges presentes no livro didático para uma discussão oral introdutória guiada pela professora.
            Na atividade II, inicialmente, são apresentados os conceitos de pronomes interrogativos e são dados exemplos de pronomes interrogativos adjetivo e substantivo e de orações interrogativas direta e indireta. Posteriormente, são apresentados três exercícios com pronomes interrogativos, sendo que um deles trabalha os pronomes interrogativos e também os relativos, tratando-se de um exercício de identificação.
            A atividade III apresenta, de início, os conceitos de orações adjetivas restritiva e explicativa. Na sequência traz um conjunto de exercícios sobre o assunto. Inicia com exercícios que incitam a reflexão sobre o tópico ‘orações adjetivas’,comparando-as ao uso de adjetivos. O exercício seguinte é expositivo:a autora traz exemplos e explicações das diferenças entre orações adjetivas restritivas e explicativas. No total de 7 exercícios, há 2 atividades de interpretação e 5 de classificação dessas orações.
Na atividade IV, Dezorze traz o conceito de oração adjetiva cortadora, apresenta alguns exemplos e propõe um exercício em que o aluno deve inserir a preposição requerida pelo verbo.
            Nesse momento, vou me deter no exercício de interpretação da atividade III. No primeiro exercício,a autora elabora duas orações adjetivas, uma explicativa e outra restritiva a partir de informações fornecidas por um texto. O objetivo do exercício é fazer o aluno interpretar os sentidos do texto e decidir, dentre as duas propostas, qual a que a mais adequada para o texto.
            Sob esse aspecto, Dezorze construiu um exercício de gramática contextualizado, associou o estudo do texto e da gramática num mesmo exercício. Tópico muito debatido por professores e teóricos da área de ensino de línguas, objetivo quemuitos professores almejam, mas que poucos conseguem atingir efetivamente. O exercício traz conhecimentos gramaticais relevantes, como também explora a habilidade interpretativa do aluno. Ocorre a ligação explícita do tópico gramatical e uma situação concreta de uso. Nesse sentido, esse exercício está de acordo com algumas vertentes do ensino de gramática que apontam que o professor deve introduzir o conteúdo contextualizadamente. Nesse caso, houve a ligação concreta de um item gramatical com uma circunstância concreta de uso da língua.
            No segundo exercício, Dezorze traz uma questão constituída de três perguntas: a primeira pede para elencar as características de gênero do texto e seus objetivos; a segunda,uma questão meramente classificatória, pede para identificar os tipos de orações; a terceira questão destaca um excerto do texto que contém ambiguidade e pede para o aluno explicá-la e sugerir um modo de desfazê-la.O exercício não é claro tanto em relação à natureza da ambiguidade como à forma de desfazê-la.
Há também no decorrer dessa PDP, exercícios cujo comando não é claro, não sendo possível identificar o que deve ser feito pelo aluno. Apesar disso, o trabalho apresenta alguma ousadia na apresentação do tema.
No decorrer dessa PDP, há uma mescla do velho com o novo, um pouco de exercício de classificação e um pouco de análise linguística. Os conceitos e nomenclaturas, na sua maioria, são inspirados na gramática normativa.
            A autora rompe com a linha tradicional apenas quando apresenta as orações adjetivas coloquiais, denominada, no material, de orações adjetivas cortadoras. Nesse momento, chama atenção para um fato linguístico em variação e aproveita-o para fixar a versão mais formal da língua, com a utilização das preposições antes dos pronomes relativos.
            Como decorrência das primeiras análises da tese, observo que há um porcentual muito pequeno de professores que optaram por desenvolver estudos voltados para um tópico gramatical durante o curso do PDE. Nessa área, as PDPs dedicam-se em sua maioria ao ensino de leitura, escrita, literatura e características de gênero textual.
            Isso pode ser reflexo de insegurança dos professores de língua portuguesa do ensino básico a respeito do tratamento a ser dado à gramática. Embora essa geração de professores tenha sido exposta a uma série de críticas a respeito do ensino de gramática, o ensino de tópicos gramaticais ainda ocupa um tempo significativo em sala de aula. Ficam, portanto, divididos entre um discurso moderno que demoniza a gramática e uma prática efetiva que engloba a gramática como parte significativa do conteúdo de Língua Portuguesa.
            Esse trabalho pretende abordar essa tensão entre discurso e prática e apresentar saídas para se desfazer essa tensão.

Palavras-Chave: PDE, Gramática, Ensino de gramática, Inovação

Referências
BORGES NETO, J. Alguns comentários sobre a iniciação científica na área de estudos linguísticos. In: X encontro do CelSul. (texto de conferência). Cascavel: Unioeste, 28 de outubro de 2012.
BOSQUE, I; GALLEGO, A. J. La aplicación de la gramatica en el aula. Recursos didácticos clásicos y modernos para la enseñanza de la gramática. In: Revista de Linguística Teórica y Aplicada. Concepsión, Chile. Vol. 54 (2), 2016 . pp.63-83
DEZORZE, E. Orações adjetivas e o ensino: perspectiva funcionalista. In: Professor PDE e os desafios da escola pública paranaense, vol. 2, 2010. Disponível em <> Acesso em 18 abr 2017.
FOLTRAN, M. J. Ensino de sintaxe: atando as pontas. In: Coleção Ciências da Linguagem Aplicadas ao Ensino. Vol. I - Gramática e Ensino. Marco Antonio Martins (Org.). Natal: EDUFRN, 2013. pp. (163-183).
PARANÁ. Documento Síntese PDE. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. SEED: Curitiba, 2012.
PERINI, M. A. Gramática descritiva do português brasileiro. Petrópolis: Vozes, 2016.



FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES E O MITO DO “FALANTE NATIVO”: UM ESTUDO SOBRE OS ETAs  E AS CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DOS  PROFESSORES DA CP INGLÊS-IsF/ UFPR
Linha de Pesquisa: Linguagens, culturas e identidades: ensino e aprendizagem.
                                                    Autora: Angela Maria Hoffmann Walesko
                                                    Orientador: Prof.  Dr.  Francisco Carlos Fogaça
                                        

Esta pesquisa tem por objetivo geral verificar  as  crenças de licenciandos do curso de Letras em Língua Inglesa da Universidade Federal do Paraná  a respeito do “mito do falante nativo” e os impactos da interação com  falantes nativos de inglês  durante sua formação inicial em suas construções identitárias e práticas de ensino. Para isso, tem como sujeitos de pesquisa um grupo de licenciandos do curso de Letras – Inglês,  professores-bolsistas na UFPR,  e de intercambistas estadunidentes, falantes nativos de inglês, denominados ETAs (English Teaching Assistants), que vieram ao Brasil por meio do Programa CAPES- Fullbright. Esse grupo atuou  no Núcleo de Língua Inglesa do Programa Idiomas sem Fronteiras (IsF)  da UFPR em 2015 e 2016 e foi, para os propósitos deste estudo, por mim nomeado CP Inglês-IsF/UFPR.  Ao longo do trabalho, buscarei responder às seguintes perguntas específicas de pesquisa: a) Quais são as concepções de língua e de ensino de língua inglesa dos sujeitos da pesquisa e como se refletem na/s sua/s identidade/s de professor-aluno?; b) “Quem” é o “falante nativo”, idealizado nas crenças de muitos professores e aprendizes de inglês – qualquer pessoa cuja língua nativa seja o inglês?; c) Como os ETAs contribuem (ou não) para a construção do mito do falante nativo  pelos professores-alunos do programa Inglês sem Fronteiras (IsF) como uma Comunidade de Prática (CP)? e d), Os professores-alunos da CP Inglês-IsF/UFPR demonstram sentimentos relacionados a Síndrome do Impostor em suas crenças e como ela está relacionada à sua proficiência na língua e práticas de ensino? Trata-se de uma pesquisa qualitativa interpretativa, de cunho etnográfico, uma vez que a etnografia permite a explicação e a descrição do que as pessoas fazem em sua comunidade de prática. Considero, entretanto, os pressupostos da pesquisa etnográfica pós-estruturalista, que destacam que a descrição na pesquisa sempre parte do olhar do observador, ou seja, do pesquisador. Ressalto, no entanto, que embora a minha voz, como pesquisadora, se sobressaia na pesquisa, ela será resultado também das vozes dos seus diversos participantes, das vozes dos pesquisadores com quem eu interagir e das vozes dos autores dos textos que eu ler, carregadas de valores e crenças, seguindo o princípio dialógico bakhtiniano, segundo o qual não há enunciado isolado. (BAKHTIN, 2003). Além da pesquisa teórica, realizei, ao longo dos dois últimos anos, como pesquisa empírica, a coleta de dados por meio de relatórios, questionários e entrevistas com os professores-alunos e com os  ETAs, a observação de aulas em cursos do IsF em que os ETAs estiveram presentes e em outras em que não estiveram, a fim de analisar  os discursos dos membros da CP  a respeito de questões  como o conceito de “falante nativo”, da importância de ser ou ter contato com um “falante nativo” de inglês para ensinar  línguas estrangeiras e, em especial, a língua inglesa, da  experiência de convivência com falantes nativos e do conceito de inglês como língua franca ou internacional  para discutir questões relacionadas à construção de suas identidades e às trajetórias dessas identidades dentro da CP Inglês-IsF/UFPR e enquanto professores de língua inglesa no contexto IsF.  Também analisei documentos  relacionados ao programa ETAs na UFPR e  aplicarei um questionário aos coordenadores do programa ETAs  junto à CAPES e à Fullbright, a fim de analisar os objetivos do programa e se tais objetivos correspondem ao discurso e agência dos intercambistas  participantes na universidade, realizando uma entrevista para esclarecer suas respostas, se necessário. Buscarei, com a triangulação dos dados obtidos na pesquisa empírica  com a pesquisa teórica,  responder às perguntas específicas de pesquisa para verificar o alcance (ou não) do objetivo geral, à respeito das crenças dos professores-alunos sobre o  “mito do falante nativo” e  a  re/construção constante de suas identidades. As crenças em mitos relacionados ao ensino e aprendizagem de língua inglesa tem influenciado a elaboração de currículos, a escrita de materiais didáticos e as práticas dos professores em sala de aula. Pennycook  (2007)  afirma que muitos dos mitos sobre o inglês como uma “língua maravilhosa” precisam ser vistos como  “construtos culturais do colonialismo” e questiona o conceito de língua nacional, considerando as variedades de línguas em uma mesma nação. São vários os estudos na área de Linguística Aplicada que tratam de questões relacionadas às construções identitárias dos professores de línguas estrangeiras em formação inicial e do “falante nativo”, em especial o “falante nativo” de língua inglesa, como um mito infiltrado no processo de ensino e aprendizagem de línguas em muitas sociedades (PENNYCOOK, 1998, 2006, 2007; RAJAGOPALAN, 1997, 2005; LEUNG, 2005). O processo de internacionalização das universidades brasileiras tem incentivado e promovido programas de intercâmbio para a vinda de falantes nativos de outras línguas, entre os quais os ETAs (English Teaching Assistants), intercambistas do Programa CAPES-Fullbright que, desde 2014,  realizam atividades diversas  enquanto “assistentes” de professores de inglês em diversas universidades federais brasileiras.  A relação das pessoas que participam desses programas com a comunidade acadêmica, com o corpo docente e discente das universidades em que atuam sempre impacta, de forma mais ou menos importante, nas construções  identitárias de seus membros. Nos cursos de Letras tal impacto se torna ainda mais evidente na medida em que os alunos em formação têm tomado, ao longo das últimas décadas, o “falante nativo” de língua inglesa como um modelo de total competência linguística e cultural, cuja proficiência  deve ser copiada. O mito do “falante nativo” tornou-se, dessa forma, parte das crenças dos alunos e tem  trazido sérias implicações, já que, ao graduar-se e atuar   nas salas de aula, muitos professores repassam e reforçam, muitas vezes até inconscientemente, tal mito e, com ele, o conceito de imperialismo linguístico e cultural (PHILIPSON, 1992; CANAGARAJAH, 2000; RAJAGOPALAN, 2005) da língua inglesa, que impacta, há anos, muitos setores da sociedade brasileira. O contato com nativos de língua inglesa pode, por outro lado, desmistificar estereótipos relacionados ao mito e promover a formação de docentes com uma visão mais ampla e crítica sobre  o papel da língua inglesa nas sociedades hoje e sobre seu ensino, discutido nesta pesquisa sob a perspectiva de estudos recentes  sobre Inglês como Língua Franca (CANAGARAJAH,1999, 2013, 2014; PENNYCOOK, 2004, 2007; JORDÃO, 2004, 2014)  e Translingualismo (CANAGARAJAH, 2013, 2014). Adoto, neste trabalho, a concepção pós-estruturalista de língua como discurso, que aponta para indivíduos que tanto se situam nas práticas discursivas quanto são por elas situados e que conseguem assumir uma posição de sujeito coerente, ou seja, sabem que a escolha de sua posição discursiva afeta toda a interação e impacta as posições dos outros sujeitos (BLOCK,  2007). A partir da visão de que as identidades são múltiplas, híbridas e discursivamente construídas, entendo que a aprendizagem de uma língua contribui para a formação da identidade de um indivíduo e considero, em especial, as teorias de Wenger (1998) e Norton (2013) para fundamentar as discussões sobre identidades. A formação social da pessoa e a criação e uso de marcadores de participação (membership) são questões estudadas pelas “Teorias de Identidade” para o entendimento da “pessoa  formada através de relações complexas de constituição mútua entre indivíduos e grupos” (Wenger, 1998, p. 13). Para o autor, o conceito de identidade é um eixo central entre o individual e o social e tem a pessoa como foco, mas não como ponto de partida, pois reconhece o caráter social da  identidade vivida do indivíduo (p. 145). Norton (2013, p. 4) define identidade  como “a forma como a pessoa entende sua relação com o mundo, como essa relação é construída ao longo do tempo e espaço e como a pessoa entende as possibilidades para o futuro”. Lave e Wenger (1991) estudaram a relação entre participação social e comunidades de prática, mostrando que participar socialmente significa participar ativamente de comunidades de prática e construir identidades nas relações nessas comunidades. Pretendo apresentar, nesta pesquisa,  discussões sobre a constante processo de re/construção da identidade na prática, a partir do estudo dos modos de pertencimento e trajetórias dos indivíduos em comunidades de prática (Wenger, 1998),  bem como o embasamento teórico que caracteriza os sujeitos da pesquisa como uma Comunidade de Prática (CP), analisando como suas identidades mudam na CP, como suas crenças e a convivência com “falantes nativos” de inglês influenciam essas mudanças  e como tais mudanças se refletem em suas práticas enquanto professores de inglês.  Acredito que este estudo oportuniza  discussões e reflexões críticas acerca dos assuntos tratados e ressalta a relevância de formadores de professores de línguas analisarem a importância da existência de “espaços” de discussão sobre tais assuntos nos cursos de Letras, bem como de analisarem e acompanharem a presença e interação de falantes nativos intercambistas com os professores em formação inicial nas universidades, para que  estereótipos sobre o papel o inglês hoje, sobre “falantes nativos” e sua autoridade, não acabem sendo reforçados. Ressalto que não encontrei, em busca inicial, estudos que analisem o papel dos ETAs dentro das universidades e sua relação com a formação inicial de professores de línguas, em especial numa Comunidade de Prática específica  e, por isso, considero ser esta uma pesquisa de caráter inédito.

Palavras-chave: Formação inicial de professores; falante nativo; língua inglesa; construções identitárias; prática de ensino.



A NATUREZA E A CODIFICAÇÃO DAS VOGAIS TEMÁTICAS VERBAIS E NOMINAIS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Linha de pesquisa: Estudos Gramaticais: descrição,
análise, teoria, meta-teoria e historiografia
Autora: Beatriz Pires Santana (PG/UFPR)
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Figueiredo Silva

            O presente trabalho apresenta algumas questões que concernem a análise em andamento do comportamento das vogais temáticas, que são elementos que participam da composição formal das palavras de uma língua, dividindo-as em diferentes classes conjugacionais. Há pelo menos duas propriedades que tornam as vogais temáticas objetos linguísticos bastante peculiares. Em primeiro lugar, a maneira como essas vogais separam os itens de uma classe de palavras em diferentes conjugações parece não depender de nenhum aspecto semântico ou fonológico dos radicais, sendo, portanto, idiossincrática. Em segundo lugar, as vogais temáticas não interagem nem com a estrutura sintática e nem com a interpretação semântica, o que faz delas objetos puramente morfo(fono)lógicos. Não diferentemente das outras línguas românicas, o português brasileiro é uma língua cujos verbos e nomes se dividem em diferentes classes formais, a depender da vogal que segue o radical. As vogais temáticas verbais são /a/ (‘cantar’), /e/ (‘comer’) e /i/ (‘partir’) e atuam como um organizador paradigmático, separando arbitrariamente os verbos da língua em três diferentes classes conjugacionais, que selecionam alomorfes flexionais específicos. Já as vogais temáticas nominais parecem agrupar os nomes da língua em pelo menos quatro classes formais, determinadas pelas vogais /a/ (‘mesa’), /e/ (‘ponte’) e /o/ (‘livro’) e pela ausência de vogal temática (‘dor’) (nomes atemáticos). Embora a classe formal a que um nome se afilia seja também uma informação idiossincrática, o pertencimento a uma classe é condicionado, embora não determinado, pelo gênero dos nomes: a maioria dos nomes femininos recebe a vogal /a/ e a maioria dos nomes masculinos, a vogal /o/. Apesar de a sobreposição parcial entre informação de classe formal e de gênero dar às vogais finais dos nomes um caráter menos arbitrário, a própria informação de gênero também figura como uma propriedade idiossincrática da grande maioria dos nomes da língua. A maneira como a informação de classe formal é codificada na gramática, o modo como as diferentes classes formais de verbos e nomes se relacionam entre si e a forma como as classes nominais e o valor de gênero se associam são algumas das questões que norteiam a presente pesquisa.
O modelo teórico da Morfologia Distribuída (HALLE & MARANTZ, 1993), adotado no presente trabalho, admite que as raízes são acategoriais e que sua classificação decorre de um núcleo funcional categorizador presente na estrutura sintática, como ʋ ou n. Em princípio, essa assunção impede que a associação de uma raiz a uma ou outra classe conjugacional de uma ou outra categoria morfológica esteja codificada na raiz. Afinal, carregar a informação de pertencimento a, por exemplo, uma determinada classe verbal implica em pertencer à categoria verbal. Ainda que admitindo a acategorialidade das raízes, diversas análises afiliadas aos pressupostos teóricos da Morfologia Distribuída que buscam dar conta da flexão verbal de línguas românicas e da composição formal dos sistemas nominais admitem que as raízes portam traços abstratos (privativos ou binários) que indicam a que classe conjugacional pertencem. Nessas análises, apenas as raízes que pertencem a uma classe mais marcada carregam um diacrítico de classe, sendo a não marcação da raiz interpretada como seu pertencimento à classe default. Alguns exemplos relacionados ao sistema verbal são Embick (2010) sobre o latim, Bassani & Lunguinho (2011) sobre o português, Oltra-Massuet (1999) sobre o catalão e Arregi (2000) sobre o espanhol. Os dois primeiros trabalhos alocam as diferentes raízes às diferentes conjugações por meio de traços privativos (como [I], [II] e [III]) e os dois últimos, por meio de traços binários (como [-α], [+α, −β] e [+α, +β]). Já alguns exemplos relacionados ao sistema nominal são Alcântara (2003) sobre o português, Müller (2004) sobre o russo, Alexiadou & Müller (2008) sobre o grego, o alemão e o russo e Harris (1997) sobre o espanhol. No caso das análises do sistema nominal das línguas, a informação de gênero, sendo uma propriedade igualmente idiossincrática, também integra o conjunto de informações carregadas pela raiz, interagindo com a informação de classe (cf. ALCÂNTARA, 2003; HARRIS, 1997). Por exemplo, a raiz de um nome feminino terminado em /a/, como ‘mesa’, carrega a informação de classe que, no caso da análise de Alcântara (2003), é a classe II: √MES[II]. Essa raiz não precisa carregar o valor de gênero, pois a regra de redundância “fem à II” dá conta da atribuição do gênero apropriado (dito de outro modo, nomes que pertencem à classe II são, por default, femininos). Já um nome como ‘ponte’, que nem carrega a vogal default para sua especificação de gênero e nem pertence ao gênero default, que é o masculino, precisa vir especificado para gênero e classe: √PONT[II],[fem]. Por um lado, o caráter idiossincrático das informações de classe verbal, classe nominal e gênero exige que essas informações estejam de alguma forma listadas. Por outro lado, atribuir à raiz o papel de carregá-las vai na contramão dos pressupostos de uma teoria nomeadamente anti-lexicalista. Esse quadro se agrava quando consideramos pares de nome e verbo que não se formam por meio de nenhum sufixo categorizador fonologicamente explícito, como no par tosse-tossir. Nesse par, o nome é do gênero feminino e termina com a vogal /e/, enquanto o verbo apresenta a vogal temática /i/. Todas essas informações são arbitrárias, não relacionadas e marcadas, o que exigiria, em uma análise que atribui essas informações à raiz, que a raiz viesse marcada com pelo menos três diacríticos --√TOSS[n:III],[v:III],[fem] -- ou que a raiz fosse listada duas vezes, cada uma delas carregando os diacríticos relacionados a uma categoria -- √TOSS[n:III],[fem]  e √TOSS[v:III] – o que é altamente indesejável, uma vez que listar duas vezes uma mesma raiz não só não é uma solução econômica, como também faz com que a identidade fonológica e semântica entre as duas palavras seja acidental. Acquaviva (2008) sugere que as informações idiossincráticas consensualmente admitidas como sendo uma propriedade da raiz são, em realidade, uma propriedade do próprio núcleo funcional categorizador.
Neste trabalho, nós intentamos demonstrar que o diferente comportamento das vogais temáticas verbais e das vogais temáticas nominais do português brasileiro sugere que sua codificação na gramática seja também diferente. Particularmente, nossa hipótese de trabalho é que as raízes podem carregar diacríticos de classe conjugacional verbal, mas não de classe nominal. Em nossa análise, os diacríticos de classe verbal são traços binários que se relacionam entre si por meio de uma hierarquia de marcação (cf. OLTRA-MASSUET, 1999), o que mostramos ser uma análise superior ao tratamento dos diacríticos de classe verbal via traços privativos, uma vez que o tratamento via traços binários faz emergir classes naturais de conjugações, o que possibilita explicar, dentre outras coisas, o fenômeno do sincretismo “interparadigmático” (i.e., entre classes diferentes; cf. MÜLLER, 2004, 2008). Em nossa hipótese de trabalho, a informação de classe formal nominal, por outro lado, não é uma propriedade codificada na raiz, e sim nos próprios itens que realizam o núcleo temático, conforme sugerido por Acquaviva (2008).

Palavras-chave: Morfologia. Vogais temáticas. Verbos. Nomes.

 ENSINO DE PRONÚNCIA SOB A PERSPECTIVA DO ILF: CRENÇAS E PRÁTICAS DE PROFESSORES DE INGLÊS DO CELIN - UFPR
Linha de Pesquisa: Linguagens, culturas e identidades: ensino e aprendizagem
Autora: Camila Haus
Orientadora: Profa Dra Denise Cristina Kluge
Debatedora: Profa Dra Márcia Regina Becker

Esta apresentação visa relatar o andamento da pesquisa de dissertação de mestrado, cujo objetivo geral é investigar as crenças dos professores de inglês do Centro de Línguas e Interculturalidade (Celin) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) a respeito de pronúncia e as possíveis relações das mesmas com suas práticas de ensino em sala de aula, considerando a perspectiva da função do Inglês como Língua Franca (ILF).
Com base em Canagarajah (2007), Pennycook (2008), Matsuda e Friedrich (2010) e Jordão (2014), concebe-se ILF como uma função que o inglês desempenha em situações que envolvem diferentes línguas, sendo "um espaço de uso de múltiplas variedades e formas de inglês para construção de sentidos" (HAUS, 2016, p. 235), trazendo uma negociação situada e contínua de significados. Por ser este espaço de uso de múltiplas variedades e formas, o "inglês não é uma, mas sim, muitas línguas, as quais encontram seu âmbito funcional nas culturas, tradições e necessidades das comunidades a que servem. (...) O uso do ILF é uma das muitas funções que o inglês desempenha na sociedade atual" (MATSUDA E FRIEDRICH, 2010, p. 21, tradução nossa[13]). Entender ILF como uma função significa incorporar no termo a complexidade dos usos em diferentes situações multilíngues. Neste sentido, existe uma negociação onde "falantes conseguem monitorar a proficiência um do outro para determinar mutuamente a gramática, fonologia, variedade lexical e convenções pragmáticas apropriadas que garantiriam a inteligibilidade" (CANAGARAJAH, 2007, p. 925, tradução nossa[14]). Portanto, não existe um sistema comum ativado nas situações de ILF, mas um processo social que está sendo construído em cada contexto de comunicação “através dos recursos semióticos disponíveis para os falantes, que sempre estão inseridos em localidades” (PENNYCOOK, 2008, p. 30.7, tradução nossa[15]). A perspectiva de ILF como função não concebe a existência de uma variedade internacional comum a qual seja empregada por todos os falantes, pois uma variedade ou um conjunto de variedades não daria conta da natureza heterogênea e fluida de ILF. Os recursos linguísticos dos quais os falantes lançam mão são restritos e condicionados pelo local, tornando impraticáveis quaisquer descrições ou categorizações. Consequentemente, o alicerce das interações em ILF está não na uniformidade, mas sim na variedade (CANAGARAJAH, 2007; PENNYCOOK, 2008; MATSUDA & FRIEDRICH, 2010; JORDÃO, 2014). Esta perspectiva tem como principal consequência, então, a remoção da importância da forma, da gramática e da precisão, bem como de um falante nativo como modelo de uso.
Considerando o objetivo geral, este trabalho foi motivado pelas seguintes perguntas de pesquisa:
  1. Quais são as crenças dos professores participantes desta pesquisa a respeito do ensino-aprendizagem da pronúncia da língua inglesa?
  2. Quais são as práticas que os professores participantes desta pesquisa utilizam na sala de aula no ensino da pronúncia do inglês?
  3. De que forma as crenças dos professores participantes desta pesquisa sobre pronúncia podem estar presentes nas ou relacionadas com as suas práticas de ensino?
  4. Qual é a relação das crenças e das práticas dos professores participantes desta pesquisa com Inglês como Língua Franca (ILF)?
A pesquisa qualitativa de caráter etnográfico foi considerada a mais adequada para responder tais perguntas e atingir o objetivo geral deste trabalho. Como instrumentos, foram utilizados questionário, entrevista e observação de aula. Primeiramente, um questionário foi elaborado para a seleção dos participantes, com perguntas que visavam um primeiro olhar sobre a formação do professor e possíveis indicações de suas práticas e crenças relacionadas à pronúncia. Dos 26 professores de inglês do Celin, 13 responderam o questionário. A partir da leitura das respostas, dois sujeitos foram selecionados para a pesquisa. 
O segundo instrumento utilizado foi a observação de aulas. Duas turmas (uma de cada professor participante) foram observadas durante todo o semestre, sendo uma turma de básico e uma de pré-intermediário. O total de horas observadas foram 92 horas, pois cada curso contém 60 horas e 14 são destinadas a atividades avaliativas. As aulas completas foram gravadas em áudio e, durante as observações, foram feitas anotações sobre os momentos que envolviam o trabalho com a pronúncia especificamente.
Por fim, o terceiro instrumento utilizado foi a entrevista individual semi-estruturada. Foram quatro realizadas com cada um dos professores, totalizando oito entrevistas. Considerando as ideias de Gaskell (2002), este instrumento facilita "a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. O objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos" (GASKELL, 2002, p. 65). A finalidade de desenvolver as entrevistas, portanto, está em identificar as crenças dos professores sobre pronúncia, bem como a relação entre suas perspectivas e práticas em sala de aula. As quatro conversas aconteceram no decorrer do semestre das observações, tendo a primeira entrevista ocorrido antes do início das aulas, a segunda e a terceira durante o semestre e a última após o término das aulas.
O processo de escrita desta dissertação se encontra agora na fase da análise dos dados. Pretendemos relacionar as crenças e as práticas dos professores do Celin quanto ao ensino de pronúncia, e refletir sobre estas relações sob a luz de ILF. Primeiramente, as entrevistas serão transcritas e exploradas através do método da análise de conteúdo. Conforme define Cohen, Manion e Morrison (2011): "[o] termo "análise de conteúdo" (…) define o processo de resumir e reportar dados textuais - o conteúdo principal dos dados e suas mensagens" (p. 563, tradução minha[16]). Quanto às observações, serão transcritos apenas os momentos os quais se referem ao ensino e aprendizagem de pronúncia. Por fim, uma reflexão será feita levando em consideração (a) as hipóteses da autora sobre as práticas dos professores relacionando-as com a perspectiva do ILF; (b) as crenças e afirmações dos professores a respeito do ensino de pronúncia e de suas próprias práticas e (c) as descrições das práticas que aconteceram no decorrer do semestre em suas aulas.

Palavras-chave: pronúncia; crenças; práticas; Inglês como Língua Franca

Referências citadas neste resumo:
CANAGARAJAH, Suresh. Lingua Franca English, Multilingual Communities, and Language Acquisition. The Modern Language Journal, v. 91, 2007, p. 923-939.
COHEN, L., MANION, L., & MORRISON K. Coding and content analysis. In: COHEN, L., MANION, L., & MORRISON K.  Research Methods in Education. 7th Edition. London: Routledge Falmer, 2011, p. 559-573.
FRIEDRICH, Patricia. & MATSUDA, Aya.  When Five Words Are not Enough: A Conceptual and Terminological Discussion of English as a Lingua Franca.  International Multilingual Research Journal, v.4, n. 1, 2010, p.20-30.
GASKELL, George. Entrevistas individuais e grupais. In: BAUER, M. W & GASKELL, George. (Org.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 64-73.
HAUS, Camila. Inglês como língua franca: objetivos e crenças de aprendizes brasileiros do Celin. Cadernos do IL. Porto Alegre, n. 52, 2016, p. 231-251.
JORDÃO, Clarissa M. ILA – ILF – ILE – ILG: Quem dá conta? RBLA, Belo Horizonte, v. 14, n. 1, 2014, p. 13-40.
PENNYCOOK, Alastair. Translingual English. Australian review of applied linguistics, v. 31, n. 3, 2008, p. 30.1-30.9.



A RELAÇÃO ENTRE AS CLASSES ACIONAIS E A DEFINITUDE DO OBJETO NA INTERPRETAÇÃO TEMPORAL DO CRIOULO HAITIANO

Linha de pesquisa: Estudos gramaticais: descrição, análise, teoria, meta-teoria e historiografia
Autora: Carla Alessandra Cursino
Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Cristina Figueiredo Silva
Debatedora: Prof.ª Dra. Teresa Cristina Wachowicz

Resumo expandido:

            O presente trabalho possui como objetivo analisar a leitura temporal, aspectual e acional no crioulo haitiano. Mais especificamente, propomos a investigação do papel das classes acionais propostas por Vendler (1967) e da definitude do objeto na interpretação de presente e de passado da língua em questão. Para tal, formulamos nossa hipótese a partir de DeGraff (2007), que afirma que a interpretação de tempo verbal no crioulo haitiano depende da classe acional do verbo e da (não) definitude de seu objeto. De acordo com o autor, a anterioridade em tal idioma pode ser marcada pela partícula te – etimologicamente relacionada com as formas été, étais, était do francês –, sempre anteposta ao verbo. No entanto, esta marca de anterioridade não é obrigatoriamente necessária para que a leitura temporal dos verbos seja de passado, conforme veremos a seguir.
            Segundo DeGraff (2007), verbos estativos sem qualquer marcador de tempo, modo e aspecto (TMA) possuem interpretação temporal relacionada à situações que se detêm ao momento da enunciação.
            (1) Bouki renmen chat  la.
                  Bouki   gostar     gato   DEF       
                 ‘Bouki gosta do gato’.

            Existe, contudo, uma notável diferença entre os verbos estativos e não-estativos no que diz respeito à leitura de passado. O autor destaca que sentenças com verbos estativos sem a partícula te são interpretadas como presente, conforme vimos em (1). Deste modo, as sentenças com verbos estativos possuem leitura de passado apenas na presença do marcador TMA, como mostram os exemplos (2) e (3).

            (2) Elifèt   te    yon   doktè.
                 Elifèt   ANT  IND   médico  
                ‘Elifèt foi/era um médico’.

            (3) Elifèt  te    anba    tab   la.
                  Elifèt  ANT embaixo mesa DEF
                ‘Elifèt esteve/estava embaixo da mesa’.

Já para as sentenças com verbos não-estativos, a leitura de presente ou passado não depende apenas da presença ou ausência da partícula te. De acordo com DeGraff (2007), tal interpretação é sensível também à definitude do objeto. Os exemplos (4a) e (4b), extraídos de DeGraff (2007), mostram que sentenças com verbos não-estativos possuem interpretação de passado diante de um objeto definido e de presente diante de um nominal nu. 
(4) a. Bouki vann  chat  la.
                     Bouki   vender gato  DEF
                    ‘Bouki vendeu o gato’.
                
     b. Bouki  vann  chat.
                     Bouki    vender  gato
                   ‘Bouki vende gato(s).’

A observação das sentenças (5) e (6), extraídas de Zribi-Hertz (2014) permite intuir que a interpretação de passado em sentenças sem a partícula te parece ser válida para nomes contáveis, como em (5), e para nomes massivos, como em (6).
(5) Pòl wè  liv    la.
     Pòl   ver   livro  DEF
    ‘Pòl viu o livro’.

(6) Pòl prèske fini      diri    a.
      Pòl  quase    terminar arroz DEF
     ‘Pòl quase terminou o arroz’.



Os dados em (7a), (7b) e (7c), também de Zribi-Hertz (2014), por sua vez, exemplificam que quando o objeto é composto por um nominal nu, a presença da marca de anterioridade é necessária para que haja uma leitura de passado.
(7) a. Pòl manje diri    a.
         Pòl   comer   arroz  DEF
        ‘Pòl comeu o arroz.’

      b.  Li  manje  diri.
          3PS  comer   arroz
         ‘Ele come arroz’.

     c. Li    te   manje  diri.
        3PS  ANT comer   arroz
       ‘Ele comeu arroz’.

As sentenças (8a) e (8b)[17] mostram, ainda, que é possível usar a partícula te diante de sintagmas nominais definidos. Deste modo, os exemplos abaixo são gramaticais.
(8) a. Ti         gason  an    te    ekri      lèt    la.
          Pequeno menino DEF ANT escrever carta DEF
         ‘O menininho escreveu a carta’.
       b. Ti        gason   an   ekri      lèt    la.
           Pequeno menino DEF escrever carta DEF
          ‘O menininho escreveu a carta’.

Os dados vistos até então trazem exemplos com verbos estativos (gostar do gato; estar doente), achievement (vender o gato; terminar o arroz) e accomplishment (comer o arroz; escrever a carta), quando interpretados no léxico, conforme a proposta de Vendler (1967). É importante ressaltar que as predições de DeGraff (2007) abordam verbos estativos e verbos não-estativo. Assim, o autor não menciona de modo específico o comportamento dos verbos de atividade. Sabe-se, contudo, que estes tendem a ser intransitivos e, portanto, não é possível contar com a definitude do objeto para obter interpretação temporal de passado. O caso de (9a) e (9b) assinala que parece haver dependência da partícula te para que ocorra a leitura de passado. De acordo com DeGraff (2007), a partícula ap, no caso de (9a), denota habitualidade[18]
 (9) a. Jan ap    naje
          Jan PROG nadar
         ‘João nada’.

      b. Ane passe Jan  te   naje.
         Ano passado Jan ANT nadar
        ‘No ano passado João nadou.’

Segundo DeGraff (2007), o contraste entre os dados apresentados sugere que a leitura temporal do crioulo haitiano é sensível a propriedades relacionadas às classes acionais e à telicidade do predicado correspondente. Ao analisarmos as predições do autor, surge uma importante questão: por que a definitude do objeto é decisiva na interpretação de presente e passado no crioulo haitiano?
Para dar conta de responder a esse questionamento, recorremos à noção de especificidade do objeto, proposta por Verkuyl (1993). O autor apresenta uma linha de análise em que se toma o verbo de modo composicional. Deve-se olhar, assim, ao que acontece no nível VP, observando se o verbo possui um complemento e, caso possua, como ele pode modificar a semântica verbal em relação à especificidade. É o que o autor chama de [±SQA] – specified quantity argument (cardinalidade específica do argumento). Caso um argumento interno possua uma quantidade específica [+SQA], recebe uma leitura télica; quando possui uma quantidade não-específica [-SQA], a interpretação verbal é atélica. Deste modo, para Verkuyl (1993), o que diferencia (10a) de (10b) é o traço de especificidade do objeto. De acordo com o autor, (10a) traz um verbo de atividade e o aspecto é imperfectivo, o que torna a sentença atélica. Por sua vez, o objeto específico de (10b) faz do verbo um accomplishment, e o aspecto é perfectivo, tornando a sentença télica.
            (10) a. Ela comeu sanduíches.
                    b. Ela comeu o sanduíche.

A noção de especificidade do objeto [±SQA] de Verkuyl (1993) parece explicar (ou ao menos dá pistas sobre) a interpretação temporal do presente e do passado no crioulo haitiano. O traço [±SQA] observado nos dados apresentados e na intuição de falantes nativos consultados colabora para predições apontadas por DeGraff (2007). Os exemplos analisados mostram que para verbos achievements e accomplishments o traço [+SQA] do objeto parece decisivo na leitura de passado, dispensando a presença da partícula te, como ocorre em (4a) e (7a). Já a marca de passado parece obrigatória em sentenças com verbos estativos – independentemente das propriedades de seu complemento, uma vez que esta classe acional possui o traço [-télico]. A partícula te também parece ocorrer obrigatoriamente em sentenças com verbos de atividade intransitivos, como em (9b), uma vez que estes não possuem argumento interno para exibir a definitude necessária para permitir a interpretação pertinente. Cabe a este trabalho, assim, discutir a balança na leitura entre tempo, aspecto, acionalidade e a definitude do objeto, numa tentativa de esclarecer o papel desses itens na interpretação de presente e passado do crioulo haitiano. Para tal, além de nos basearmos nas referências teóricas, também desenvolvemos um experimento com falantes nativos do crioulo do Haiti a fim de verificar as predições de DeGraff (2007).  

Palavras-chave: crioulo haitiano, acionalidade, definitude.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CURSINO, C.; FIGUEIREDO SILVA, M.C. Sobre tempo e acionalidade no kreyòl. Curitiba: Semana de Letras UFPR, 2016.
DEGRAFF, M. Kreyòl Ayisien, or Haitian Creole (‘Creole French’). In: Comparative Creole Syntax: Parallel Outlines of 18 Creole Grammars, John Holm and Peter Patrick. London: Battlebridge Publications (Westminster Creolistics Series, 7), 2007.
VENDLER, Z. Linguistics in philosophy. Ithaca (NY): Cornell University Press, 1967.
VERKUYL, H. A theory of aspectuality. Cambrigde: Cambrigde University Press, 1993.
ZRIBI-HERTZ, A. Projet : Langues & Grammaires en Île de France. Paris : UMR SFL, Université Paris-8, 2014.





PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE O ENSINO DA COMPREENSÃO ORAL EM INGLÊS PELOS ALUNOS DE LICENCIATURA EM LETRAS E PELOS PROFESSORES JÁ NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO
Clarita Gonçalves de Camargo
Linha de pesquisa: Linguagens, culturas, e identidades: ensino e aprendizagem.
Orientador: Denise Kluge
Debatedor: Fernanda Silva Veloso
            O ensino da habilidade da compreensão oral (CO) ainda é pouco explorado em ambientes educacionais, tanto em contexto de formação inicial/continuada de professores de línguas estrangeiras, quanto no que se refere as pesquisas existentes, se comparados a outras habilidades linguísticas. A compreensão oral por ser vista como um sistema complexo, abrange o processamento cognitivo que compreende a percepção, a memória e a atenção; e os aspectos linguísticos referentes as características fonológicas da fala, a construção da estrutura sintática até o nível semântico, incluindo os sentidos construídos pela ordem pragmática. Um dos pesquisadores que concordam com a complexidade da CO é Vandergrift (1999) explicando que o fato dos ouvintes em tempo real terem que discriminar o som, entender o vocabulário, estruturas gramaticais e interpretar a mensagem, dentro de um contexto sociocultural, faz da habilidade uma das mais difíceis de serem ensinadas. Além disso, muitos professores não sabem sobre sua natureza subjetiva e acabam conceituando práticas similares a habilidade da leitura, como se as características do texto oral fossem equivalentes as do texto escrito (FLOWERDEW; MILHER,2005). Para esses autores a linguagem falada tem “o potencial para muitas sutilezas emocionais, sensibilidades contextuais, influências pessoais, armadilhas interativas e referências ao mundo real, fora dos meandros do texto”. (p.51-52).
            Para o tratamento da CO encontram-se três principais modelos de abordagens: O primeiro é abordagem por compreensão (comprehension approach) que envolve ouvir um texto oral e realizar exercício com questionário com resposta (certa ou errada); seleção de informações (explícitas e implícitas); e teste de múltipla escolha (verdadeiro ou falso). No que se refere a esse modelo, percebe-se que ele é centrado em perguntas de compreensão que visam avaliar se o aluno compreendeu a mensagem. Field (2008) critica esse modelo porque recebe conceitos partindo de princípios norteados pela habilidade da leitura, no que se refere ao compará-lo ao texto escrito. Outro motivo a crítica se remete as atividades que visam mais testar o aluno do que ensiná-lo. Nesse viés, as atividades propostas não são bem esclarecidas, dificultando saber se elas realmente contribuem na melhora do desempenho. O segundo modelo é  a abordagem por estratégias (strategies approach), oferecendo técnicas que colaboram no processo de aprendizado. Para a autora Oxford (1990) os motivos que fazem o uso de estratégias vêm da consciência do aluno, do estímulo por parte do professor, dos modelos de atividades e da própria interação no aprendizado. Field (2008) também concorda que o professor deva desenvolver uma consciência metaestratégica que possa dar autonomia ao aluno sobre as técnicas que o ajudem na tarefa. A crítica a esse modelo ocorre pela falta de clareza por parte do professor, em saber reconhecer quais tipos de estratégias realmente os ajudam. Há também uma taxonomia de estratégias pouco exploradas, confundindo como elas devam ser manipuladas. Todavia, tanto Oxford quanto Field concordam que os alunos devem se conscientizar sobre como a língua funciona, para que eles possam encontrar técnicas que melhor se encaixe com suas necessidades. Por último, aparece a abordagem por processos (process approach) que envolve o treino de várias sub habilidades atuando desde a percepção fonológica, passando pela ordem sintática, nível semântico até a compreensão da mensagem (FIELD, 2008). Para o autor, esses processos são semelhantes aos encontrados na língua materna, mas sofrem restrições devido as limitações na proficiência língua estrangeira, ou seja, compreender um texto oral envolve sub competências como: a de “discriminar sons distintivo da língua alvo, de reconhecer estrutura rítmica do som, de inferir significado em contexto comunicativo e de identificar o propósito de um texto”. (RICHARDS, 1983, apud BUCK, 2001). Todas essas sub competências devem ser treinadas até chegar num estágio de automatização, estudadas pela teoria cognitiva como um processo de aquisição.
            Diante desta perspectiva, relacionada pelos três tipos de abordagens: abordagem por compreensão, abordagem por estratégias e abordagens por processos, a presente tese busca verificar quais escolhas metodológicas tem sido relevante ao ensino da CO e investigar opiniões por parte dos docentes sobre como essa habilidade deva ser ensinada. Pressupõe-se que as dificuldades encontradas no ensino sejam justificadas pela incompreensão em relação a prática, faltando especificidade sobre como aplicá-las. Além disso, a forma como ela está sendo apresentada em sala de aula pode não estar condizente com as demandas cognitivas em contexto real.
            Este trabalho se justifica pela necessidade de haver mais pesquisas nesta área considerando que a compreensão oral é uma das habilidades mais usadas em contextos comunicativos, porém pouco estuda em contextos acadêmicos para o ensino de LE. Acredita-se que investigar como esse ensino é percebido pelos professores, incluindo grau de dificuldades, escolhas metodológicas, modelos de atividades (testes), tipos de insumo e conceitos sobre o processo que a envolve, possam trazer mais esclarecimentos acerca do que vem sendo feito com essa habilidade, podendo diagnosticar o seu papel no ambiente de ensino e aprendizagem. Diante desse propósito elencamos algumas perguntas de pesquisa: (1) Como os professores em formação inicial e em atuação interpretam a prática de compreensão oral e quais suas percepções sobre como essa habilidade deva ser ensinada? (2) Quais tipos de abordagens têm sido relevantes ao ensino da CO e quais as opiniões dos alunos em formação inicial e em atuação sobre como as atividades devam ser aplicadas? (3) Qual é o papel do ensino da habilidade da compreensão oral pelos professores e que grau de relevância há em comparação a outras habilidades linguísticas? (4) Quais são as dificuldades encontradas pelos professores no ensino da CO e quais ações são tidas como facilitadora nesse processo? (5) Quais diferenças há entre as percepções dos professores de formação inicial comparada com professores já experientes na carreira?

Metodologia
            A pesquisa é de base qualitativa etnográfica, fundamentalmente interpretativa, realizada diante de um contexto social. Isso não quer dizer que não se possam conter dados percentuais, como forma de ajudar a compreender as análises. A pesquisa etnográfica ajuda a compreender as bases culturais, valores sociais, políticos e ideológicos que pairam na prática de ensino (ANDRÉ, 1995). Assim, esse método possibilita descrever e interpretar como as práticas de CO vem sendo manipuladas e interpretadas pelos alunos de um curso de Letras e por aqueles no exercício da profissão.
            A pesquisa está em processo de elaboração e contará com dois perfis de professores. Um grupo de participantes em formação inicial no curso de Letras Português-Inglês e outro em atuação com um tempo de experiência na carreira.  Será aplicado questionários, far-se-á entrevistas, observações de aulas e do material utilizado pelo professor em suas atividades práticas, buscando cumprir os objetivos já delineados neste trabalho. 

Considerações finais
            Ao final da pesquisa espera-se ter identificado a percepção dos professores a respeito do ensino da habilidade; observado seus pontos de vista a respeito das opções metodológicas; percebido alguns tipos de dificuldades, considerando modelos das atividades e tipos de encaminhamentos. Propõe-se também verificar de que maneira os professores compreendem o processo que a envolve, e quais posturas são tidas como facilitadora neste processo; averiguando o papel desse ensino. Para finalizar, será comparado as diferenças de opiniões entre os professores quase iniciantes na profissão, com aqueles já experientes na atuação, para que se possa verificar se há diferentes posicionamentos devido a experiência com a prática.  A contribuição desta pesquisa visa favorecer esclarecimentos sobre a prática da CO, dialogando com as opiniões do professor, com intuito de verificar se há influencias oriundas de suas experiências e de que forma isso reflete no contexto de aprendizagem.

Referências
ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995.
BUCK, G. Assessing listening. Cambridge: University Press, 2001.
FIELD, J. Listening in the language classroom. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
FLOWERDEW, J. Academic listening. Cambridge: CUP, 1994.
________. MILLER, L. Second language listening: theory and practice, Cambridge: CUP, 2005.
OXFORD, R. L. Language learning strategies: what every teacher should know. Boston: Heinle & Heinle,1990.
VANDERGRIFT, L. Facilitating second language listening comprehension: Acquiring successful strategies. ELT Journal, v. 53, p. 168-176, 1999.

Palavras Chave: Compreensão Oral; Formação de professor; Ensino do inglês



ENSINO DE LÍNGUA INGLESA EM UM PROJETO CURRICULAR INOVADOR: HÁ APRENDIZAGEM NO CAOS?

Linha de pesquisa
Linguagens, culturas e identidades: ensino e aprendizagem

Autor
David José de Andrade Silva

Orientadora
Profa Dra Denise Cristina Kluge

Debatedora
Profa Dra Clarissa Menezes Jordão

Resumo expandido
            O fenômeno da aprendizagem em contextos formais é objeto de estudo há séculos, tendo gerado várias correntes teóricas, tanto nos estudos de educação quanto na psicologia e na própria linguística, sendo a última preocupada especificamente com a aprendizagem de línguas. Igualmente, mas não há tanto, tempo, iniciou-se a pesquisa sobre o currículo escolar que, na prática, define institucionalmente o conhecimento válido a ser ensinado aos estudantes, bem como seus efeitos sobre o processo de ensino-aprendizagem. Portanto, há que se considerar que existe uma relação intrínseca entre o currículo e a aprendizagem de algo por aquele anteceder, por exemplo, a escolha da técnica, do método ou da abordagem. E a Língua Inglesa (LI) insere-se nesse contexto.
            Historicamente, o ensino da LI foi conduzido, bem como a grande maioria das outras disciplinas, pelo planejamento escalonado, ordenado, sequencial, no qual o aprendiz era exposto a estruturas sintáticas consideradas simples, como a memorização de vocabulário sobre a família, até estruturas mais complicadas, tal qual o conceito do Present Perfect Tense, que não possui um similar direto na Língua Portuguesa (LP). Esse critério para sistematizar a organização das aulas, mesmo em diferentes métodos e abordagens, transformou-se no padrão a ser adotado em escolas de idiomas e também em materiais didáticos impressos (como livros didáticos, apostilas e manuais), estes comprovadamente a principal, quando não a única, fonte de planejamento didático-pedagógico de grande parte do corpo docente de escolas públicas e privadas (VILAÇA, 2009). Além disso, essa sistemática também gerou a noção de fluência ao classificar o conhecimento de algumas estruturas como parâmetro para definir níveis, como básico, intermediário e avançado. Apesar de os últimos trinta anos ter havido grande avanço na discussão e produção científica para repensar possibilidades de aprendizagem de língua estrangeira, principalmente capitaneados pelas pesquisas em Linguística Aplicada (LA), o foco maior ainda permanece na formação de professores ou na metodologia, enquanto o currículo, a peça principal, permanece sem a atenção devida.
             O presente trabalho visa a colocar em discussão a condução de uma pesquisa de doutoramento que se propõe a investigar os efeitos de uma mudança curricular paradigmática sobre a aprendizagem de LI em uma instituição pública de nível técnico em cursos com Ensino Médio Integrado (EMI). Para atingir tal objetivo, serão apresentados os seguintes pontos: breve histórico institucional; fundamentação teórica; dilemas de pesquisa; perspectivas. Logo, não haverá a menção de resultados nem de certezas, mas uma clara mostra de potencialidades de possibilidades de pesquisa que emergem constantemente (pois ainda está em fluxo) e, ao mesmo tempo, as dificuldades de estipular o recorte que seja significativo não somente para a produção de uma tese, mas principalmente para contribuir para a continuidade de um projeto curricular que está rompendo barreiras e motivando outras instituições a pensar para além da disciplina. 
A escola investigada adotava o modelo curricular clássico por disciplinas até 2014, ano em que encerrou a primeira turma de EMI. Ao longo daquele ano, após ocorrências de diversas naturezas, foram montados três Grupos de Trabalho (GT) para repensar os caminhos que a instituição seguiria, sendo eles: Identidade Institucional; Avaliação; e Currículo. As três comissões trabalharam praticamente por três meses e, após a apresentação dos resultados, o único que permaneceu foi a o GT Currículo, cujo objetivo era aperfeiçoar a proposta de alteração curricular originada nas discussões do grupo. Na sequência, no ano de 2015, iniciou-se a primeira turma de EMI no novo currículo, cuja implementação traria uma sequência de mudanças estruturais em várias áreas, abrangendo desde a questão metodológica na sala de aula (espaço micro) até a gestão da secretaria acadêmica e formação de professores (espaço macro). Para entender as alterações, fazem-se necessários alguns detalhamentos.
O projeto curricular organiza-se em grandes áreas, Ciências da Natureza e Matemática, Ciências Humanas, Linguagens e Formação Técnica. Para cada área, são ofertadas Unidades Curriculares (UC), módulos de carga horária variável (mas relativamente estáveis), que podem representar um conhecimento específico de uma disciplina, mais de uma disciplina ou a conjugação de diferentes áreas. A principal característica da UC é ela ter início e fim em si mesma, independentemente de possuir relações com outras unidades curriculares, as quais são planejadas em conjunto pelos docentes da mesma área. Em tempos de customização da informação, de tutoriais e vídeo-aulas, a tentativa de estabelecer conexões por meio da instituição, mesmo que em abordagens por projetos, caminha em sentido oposto à realidade da geração atual, que busca intensamente pela originalidade, subjetividade e exclusividade, ainda mais na adolescência. Outra característica importante, ainda nos aspectos endógenos, é a liberdade metodológica, permitindo que os docentes adequem o método ao conteúdo planejado, inclusive possibilitando a presença de mais de um professor responsável pela UC. Essa abertura respeita o acervo pedagógico dos professores, cujas trajetórias formativas podem ter sido ricas ou limitadas em experiências com técnicas, métodos e abordagens diferenciadas. Por fim, a oferta de Unidades Curriculares, atualmente, por uma limitação logística, é semestral e, na sua maioria, possui carga horária de trinta ou sessenta horas. No entanto, o projeto pedagógico não impede que haja UC’s com carga horária maior ou menor.
Por sua vez, o primeiro impacto para os estudantes é se deparar com uma proposta totalmente diferente da que estavam acostumados no ensino fundamental, tendo como desafio primordial a construção de seu itinerário formativo a partir da flexibilidade curricular. Se, no modelo clássico, eram passivos em relação à sua formação, na instituição pesquisada são responsáveis não somente pela tomada de decisão sobre o que, quando e com quem estudar, mas também propor unidades curriculares que julgarem pertinentes conforme o contexto político, social e econômico. Nesse processo decisório, os discentes são orientados a estabelecer objetivos e critérios de escolha a partir: de sua própria percepção e reflexão sobre a sua história de vida, suas limitações, potenciais, lacunas, desejos e necessidades; da participação da família, como responsáveis legais e parte interessada no sucesso acadêmico e profissional; do acompanhamento de um(a) tutor(a), que, com sua experiência e maior contato no cotidiano escolar, pode problematizar e auxiliar os estudantes na jornada.
             O acompanhamento e avaliação da implementação do projeto ocorre bimestralmente desde 2015, por meio do espaço reservado para o Conselho de Classe, o qual também foi ressignificado, passando de rito protocolar de comentários gerais sobre estudantes a discussões estruturais sobre resultados obtidos, planejamento pedagógico e análise de casos emblemáticos relacionados aos efeitos do novo currículo. Em adendo, foi criado no início de 2016 o Grupo de Trabalho de Acompanhamento e Avaliação do EMI, cujo objetivo é debater e buscar soluções para problemas e situações imprevistas à época da elaboração do projeto.
            A fundamentação teórica para dar conta dessa complexidade curricular baseia-se inicialmente no paradigma emergente de Santos (2010), nas teorias da complexidade de Morin (2002, 2014), na teoria do caos aplicada à educação por Smitherman (2006) e na questão curricular por um viés crítico e sociocultural, serão utilizados Silva (2010, 2013) e Macedo (2013). Como a pesquisa ambiciona chegar à questão da aprendizagem da LI nesse contexto curricular caótico, ainda busca um aporte mais seguro, pois são poucas pesquisas que trabalham nessa vertente.
            Por fim, a maior dificuldade encontrada até o momento é encontrar o recorte ideal para efetuar a análise, tendo em vista a riqueza educacional que essa proposta inovadora provoca em tempos que a educação corre sérios riscos de retroceder severamente.

Palavras-chave: currículo; caos; aprendizagem.

Bibliografia

MACEDO, R.S. Currículo: campo, conceito e pesquisa. 6 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.

MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 21 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.

SANTOS, B.S. Um discurso sobre as ciências. 7ed. São Paulo: Cortez, 2010.

SILVA, T.T. da.  O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. 1 ed. 4 reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

______________. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3 ed. 4 reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

SMITHERMAN, S. Chaos and complexity theories: wholes and holes. In: DOLL Jr., W.; FLEENER, M.J. et. al. (Org.). Chaos, complexity, curriculum, and culture: a conversation. New York: Peter Lang, 2006.

VILAÇA, M.L.C. O material didático no ensino de língua estrangeira: definições, modalidades e papéis. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, Vol. VIII, n° XXX, Jul.-Set., 2009

A LEITURA DE TEXTOS LITERÁRIOS NAS AULAS DE LÍNGUA INGLESA: UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA

Dayse Paulino de Ataide
Linha de pesquisa: Linguagens, culturas e identidades: ensino e aprendizagem
Orientadora: Profa. Dra. Clarissa Menezes Jordão
Debatedor: Prof. Dr. Francisco Carlos Fogaça

Palavras-chave: Leitura. Textos literários. Língua inglesa. Escola. Etnografia
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo
(Fernando Pessoa).

O lugar da literatura no processo de ensino-aprendizagem de línguas tem conquistado um espaço importante nas pesquisas preocupadas com os usos e desusos dos textos literários nas  aulas de língua inglesa. De acordo com a teórica literária francesa Rouxel (2013), é um aspecto incontornável questionar o para quê ensinar literatura, o que determina o como ensinar. Dessa forma, com esse estudo, busco avaliar os objetivos que norteiam o ensino de literatura nas aulas de língua de uma turma de Ensino Médio de uma escola pública de Educação Básica, bem como seu papel na formação desses alunos.
Conforme Showalter (2007), há alguns anos, o trabalho com a literatura era defendido, por diversos autores, como algo que transformava, sempre positivamente, a vida dos indivíduos que se rendiam a ela. Nas palavras da professora, “no passado, a maioria dos educadores concordava que o ensino de literatura era uma forma de fazer das pessoas seres humanos melhores e cidadãos melhores”[19] (SHOWALTER, 2007, p.22). Isso é um fator que pode acarretar em diversos problemas. Um deles é o afastamento dos estudantes do texto literário, muitas vezes por acreditarem que o texto está além da sua capacidade de compreensão. Essas ideias muitas vezes têm origem no próprio ambiente escolar, onde a forma que o texto é inserido na vida do educando pode fazer com que ele perca ou nem adquira a vontade de ler.
Esse fator despertou em mim um interesse em propiciar para jovens da Educação Básica uma oportunidade de vivenciar a leitura de textos literários nas aulas de inglês. Entretanto, como ensinar literatura diante de obstáculos aparentemente tão sólidos, insuperáveis, intransponíveis? Nessa rede de indagações e dúvidas, percebi que não poderia deixar de considerar quais seriam as vantagens em levar textos literários para as aulas de inglês se essa prática não é comum na disciplina referente à língua estrangeira da Educação Básica.
A minha experiência na graduação, especialmente no PIBID, intensificou a busca por algumas respostas ou, pelo menos, algumas alternativas que explicam, em parte, os porquês da literatura estar pouco presente na rotina do processo de ensino-aprendizagem em língua inglesa. No subprojeto do qual participei, tínhamos que desenvolver trabalhos que propunham o ensino de língua inglesa a partir de textos literários, uma iniciativa inovadora para a Educação Básica. Esses trabalhos eram fundamentados pelos estudos de Coelho (2000; 2003), que vê na escola um espaço privilegiado onde “deverão ser lançadas bases para a formação do indivíduo” (COELHO, 2000, p.16).
A experiência como bolsista do PIBID também acentuou meu olhar para a escola pública. Lá, comecei a perceber que a minha trajetória persistiria nesse campo. Tornou-se imprescindível então ouvir de perto todas as vozes que compõem uma sala de aula, ou seja, de alunos e professora de uma escola da rede estadual de Curitiba. Dessa maneira, surgiu nessa trajetória o momento de mergulhar no espaço onde estas indagações podem ser observadas com mais profundidade, o ambiente escolar. Dessa forma, passaram a nortear esta pesquisa as perguntas seguintes:
1.      Quais são os papéis que os textos literários podem exercer em uma turma de 1º ano do EM regular de uma escola estadual durante o processo de ensino-aprendizagem em língua inglesa?
2.      Quais são as percepções dessa turma e de sua professora de inglês em relação ao uso de textos literários nas aulas de língua inglesa?
3.      Pra que utilizar textos literários nas aulas de língua inglesa em escolas estaduais de Curitiba?
Em termos metodológicos, para problematizar essas perguntas, esse trabalho trilhou um caminho etnográfico, ou seja, de natureza qualitativa e interpretativista, em que “as escolas, e especialmente as salas de aula, provaram ser espaços privilegiados para a condução de uma pesquisa qualitativa, que se constrói com base no interpretativismo” (BORTONI-RICARDO, 2008, p.32). Definido meu objeto de estudo, procurei instituições que estivessem dispostas a abrir suas salas para que eu pudesse encaminhar a pesquisa. Um colégio estadual localizado na Cidade Industrial de Curitiba permitiu o meu acesso a esse “espaço privilegiado” para que o estudo fosse realizado. Lá, tive a oportunidade de observar a prática docente de Amy, professora concursada de inglês, especialmente como ela costuma trabalhar com o texto literário nas turmas de EM e as suas escolhas metodológicas. Em relação aos estudantes, procurei investigar as percepções deles em relação à leitura literária nas aulas de inglês da escola regular.
Como todo trabalho com características similares àquele desenvolvido na escola, essa pesquisa foi colaborativa. Nesse sentido, compartilho com Bortoni-Ricardo (2008) a visão de que a pesquisa colaborativa etnográfica provoca muitas mudanças e efeitos nos indivíduos que dela participam. Isso não foi diferente na sala de aula, que teve sua rotina, bem como sua identidade afetadas pela presença da pesquisadora em sala, comum em pesquisas dessa natureza (BORTONI-RICARDO, 2008). 
Para abrir as janelas dessa pesquisa, o texto será dividido em 3 capítulos. No primeiro, relato os caminhos metodológicos pelos quais transitei para chegar ao resultado apresentado. Busco, no primeiro momento, trazer algumas considerações acerca da pesquisa etnográfica colaborativa, na qual este estudo se enquadra. Para tanto, lancei mão de alguns instrumentos a fim de ouvir e dar voz aos sujeitos da sala de aula. As observações ofereceram um panorama das aulas e pude levantar várias possibilidades do que poderia ser feito ali, posteriormente compartilhadas e negociadas com a professora da turma. A partir das observações e encontros com a Amy, dois questionários foram elaborados, um para os alunos e outro para a docente. Ambos objetivavam coletar alguns entendimentos acerca das aulas de inglês na escola. A junção dos dados levantados com as ferramentas e com as aulas colaborativas renderam as entrevistas realizadas ao final do período letivo.
No capítulo seguinte, retomo algumas concepções de língua e literatura no ensino de língua na Educação Básica, a fim de questionar os fatores que justificam a desarticulação entre elas nas aulas de língua inglesa. Considero essencial buscar entender como essas concepções afetam o processo de ensino-aprendizagem da disciplina. Posto isto, acredito que os entendimentos sobre língua e literatura facilitarão a avaliação dos papéis que a literatura [não] ocupa nas aulas de língua, aqui “concebida como um espaço de construção coletiva de sentidos, envolvendo uma história (ou várias) social, cultural, política, econômica, uma história do passado, do presente e do futuro” (JORDÃO, 2014, p.135).  No andamento desse texto, pretendo mostrar que a literatura é língua e como tal, não está imune ao contexto que cerca os leitores.
No terceiro capítulo, combino o material levantado com as observações, questionários e entrevistas com as aulas colaborativas ministradas no colégio, relacionando-os às concepções e à bagagem teórica que fui acumulando na minha trajetória. A partir desse entrelaçamento, será possível pensar em modos alternativos para que os alunos se tornem mais críticos, capazes de negociar sentidos, questionar interpretações, fazer escolhas diante do que eles leem. Nessa seção ainda, trarei algumas considerações sobre a avaliação nas aulas de língua inglesa, com o propósito de fundamentar as escolhas que Amy e eu utilizamos nas aulas nesse sentido.
Enfim, no decorrer dessa pesquisa, procuro trazer argumentos que evidenciam que, apesar de a leitura literária nas aulas de inglês na escola pública se confrontar cotidianamente com inúmeras pedras no caminho, tornando a construção de castelos laborioso, o trabalho com textos literários é viável. Para tanto, é preciso desmistificar a visão que muitos têm sobre a literatura e sobre a língua. O primeiro passo nessa direção é descompartimentalizar língua e literatura, ao “tornar o texto literário ‘acessável’ e acessível”  aos alunos, ou seja, “é necessário que a literatura não apenas esteja disponível  em todos os lugares da escola, mas que seja tornada compreensível, discutível, próxima” (DALVI, 2013, p.81). Para que isso aconteça, é preciso que estejamos dispostos a “desinventar a língua” (PENNYCOOK, 2007), a entender a literatura como uma criação linguística, uma prática social ideológica repleta de lacunas a serem preenchidas por todos aqueles que dela se apropriarem.

REFERÊNCIAS
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola, 2008.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria análise didática. 7. ed. São Paulo:
Moderna, 2000.
COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas: símbolos mitos arquétipos. São Paulo: Dcl,
2003.
DALVI, Maria Amélia. Literatura na escola: propostas didático-metodológicas. In: DALVI, Maria A.; REZENDE, N. L. de; JOVER-FALEIROS, R. Leitura de literatura na escola. São Paulo: Parábola, 2013.
JORDÃO, C. Aprendendo língua estrangeira com o professor Jacotot: criticidade na pedagogia crítica e no letramento crítico. In: MATEUS, E; OLIVEIRA, N. Estudos críticos da linguagem e formação de professores de línguas: contribuições teórico-metodológicas. Campinas: Pontes, 2014.
MAKONI, S; PENNYCOOK, A. Desinventing and Reconstituting Languages. Clevedon, UK: Multilingual Matters, 2007.
ROUXEL, A. Aspectos metodológicos do ensino da literatura. In: DALVI, Maria A.; REZENDE, N. L. de; JOVER-FALEIROS, R. Leitura de literatura na escola. São Paulo: Parábola, 2013.
SHOWALTER, E. Teaching Literature. Oxford: Blackwell Publishing, 2007.




PERSPECTIVAS TEÓRICAS E PRÁTICA PEDAGÓGICA DE DOCENTES DE LÍNGUA INGLESA: IMPACTOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA UEPG
Linha de Pesquisa:  Linguagens, culturas e identidades: ensino e aprendizagem
Autor: Isabel Cristina Vollet Marson (Doutoranda da UFPR)
Orientadora: Profª Drª Clarissa Menezes Jordão (UFPR)
Debatedor: Profº Drº Eduardo Henrique Diniz de Figueiredo  (UFPR)
RESUMO:
Marcada por mudanças constantes, a contemporaneidade exige profissionais mais atentos à inovação e mais capacitados a conduzir múltiplas tarefas. A utilização das tecnologias da informação e da comunicação (TICs), principalmente as que utilizam a rede mundial de computadores ou internet, incita mudanças em como os sujeitos se comunicam e constroem significados. Consonante com a perspectiva de que a língua(gem) é uma prática social que se constitui dialogicamente na relação com o outro (BAKHTIN, 2006) e se caracteriza como plurilíngue e multicultural (NEW LONDON GROUP, 1996), é fundamental a discussão das práticas de letramento na contemporaneidade. Partimos do pressuposto de que a língua não pode ser considerada com um fim em si mesma (NELSON; KERN, 2012), e mesmo considerando os aspectos estruturais, linguísticos, culturais e semânticos nela envolvidos, não se pode explicar as várias interações que acontecem nas situações cotidianas com modos considerados não-linguísticos como o uso de imagens, de movimento, de sons, de configurações de espaço, de plataformas digitais, que a envolvem. Aliados a essa visão de promover os múltiplos letramentos e construir significados em contextos envolvendo modos semióticos variados, Kress (2003, p. 35) defende que “[...] a língua sozinha não consegue nos dar acesso ao significado de uma mensagem constituída multimodalmente”. Nesta perspectiva, nos filiamos ao pensamento de Street (1997), que critica o letramento autônomo, autossuficiente e independente do contexto, pois para dar conta da multiplicidade de práticas que são constituídas pela língua(gem), faz-se necessário o letramento ideológico, plural, dinâmico. Podemos dizer que o idioma que tem se firmado na era das TICs e da globalização é o inglês como língua franca (SILVA, 2010). Assim, defendemos que discutir as teorizações que envolvem os multiletramentos e o inglês como língua franca auxiliam estudiosos e pesquisadores na compreensão das habilidades meta-cognitivas (NELSON; KERN, 2012) envolvidas no processo de escritura e de leitura dos textos multimodais e no discernimento das práticas que consideram a língua(gem)  como uma fonte semiótica de significados. Por consequência, essa construção de sentidos está intrinsecamente ligada a um contexto específico e aos interesses do leitor construtor de significados. Se pensarmos que a pedagogia dos multiletramentos leva em conta aspectos socioculturais da língua, da mesma forma também o inglês como língua franca pode trazer reflexões no sentido de reinventar e reconstruir a vida local, pois, o ensino da língua deve contribuir para a formação de cidadãos conscientes de suas próprias línguas e culturas. Com o intuito de discutir a formação do professor de língua inglesa nessa nova era globalizada, que prevê a ação de um aluno que faz uso de muitas culturas (multiculturalismo), múltiplas linguagens (multilinguismo), e TICs, o objetivo principal dessa pesquisa é investigar como os licenciandos e docentes percebem as práticas discursivas nas quais estão inseridos no curso de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Partimos da suposição de que as concepções teórico-práticas estudadas na universidade influenciam a práxis de licenciandos na educação superior.  A opção por investigar a formação de professores de língua inglesa e as práticas que eles estão inseridos é justificada pela necessidade de reconfigurar os currículos do curso de Letras frente à globalização e as rápidas transformações sociais, políticas, econômicas e tecnológicas advindas do mundo contemporâneo; a necessidade de ressignificar a prática pedagógica em contextos em que os multiletramentos e a multimodalidade se fazem presentes; e na urgência de pensar a língua inglesa como uma língua franca, que possibilita a descentralização do falante nativo e traz “[...] repercussões para a escolha das variedades a serem ensinadas” (EL KADRI, 2010, p. 13). Para tanto, o estudo está pautado no campo da Linguística Aplicada com ênfase em perspectivas pós-modernas. Partimos da suposição de que a universidade deve ser vista como um espaço em que se difunde e se questiona o saber institucionalizado, que se cria novos saberes e ainda que instiga a curiosidade e o questionamento tanto do aluno quanto do docente. Assim sendo, a formação profissional do professor de língua inglesa se inicia no espaço universitário, que influencia fortemente sua prática, portanto é pertinente o estudo das práticas discursivas e educativas do futuro professor de língua inglesa na educação superior, pois espera-se que ele se envolva num processo de busca e construção crítica do conhecimento. Como a pesquisa está relacionada à formação inicial do professor de língua inglesa, a pesquisa qualitativa interpretativa atende aos requisitos de investigar um fenômeno que influencia o contexto em que eu, pesquisadora me situo, e de procurar compreender o comportamento profissional do professor que se insere nessa conjuntura. Da mesma forma, Tuckman (2002) também revela que a preocupação essencial do pesquisador na pesquisa qualitativa é com a descrição e com a análise dos dados indutivamente, preocupando-se com o significado produzido pelos respondentes. Como planejamento preliminar dos instrumentos de pesquisa, pretendemos utilizar questionários e entrevistas semiestruturadas que serão aplicados aos professores e alunos do curso de Letras Licenciatura, além de observação de aulas dos alunos de Letras Licenciatura no estágio supervisionado de Língua Inglesa.  Perguntas relacionadas à concepção de língua, perspectivas teórico-práticas, variedades do inglês, recursos didático-pedagógicos, influência das TICs na prática, serão aplicadas aos professores de Língua e Literatura Inglesa (1º ao 3º ano) e aos licenciandos do 3º ano do curso de Letras Português Inglês (vespertino e noturno) no ano de 2017, com o objetivo de investigar como os docentes e discentes percebem as práticas discursivas em que estão inseridos na universidade e que perspectivas guiam suas práxis. A pesquisa também prevê o estudo documental do currículo do curso de Letras da UEPG, a análise do projeto político institucional, no sentido de observar que práticas, docentes e discentes do curso de Letras, estão envolvidos e se as perspectivas teóricas e práticas dos multiletramentos e inglês como língua franca são praticados na graduação. Para a análise dos dados será utilizada a perspectiva do discurso na linha Bakhtiniana, que investiga como dialogicamente os saberes e questionamentos múltiplos de sentidos vão produzindo as diversas vozes sociais (BAKHTIN, 2006) que são formadas na interação. Esperamos que esta pesquisa contribua com a área de Estudos da Linguagem, pois o estudo das concepções teórico-práticas que guiam as práxis de professores de língua inglesa traz repercussões para a formação de outros professores na educação superior e no direcionamento da prática em contextos escolares. Além disso, esta pesquisa preenche a lacuna de investigar a possível relação dos conceitos teóricos dos multiletramentos e dos estudos sobre o inglês como língua franca em contextos de formação de formação inicial de professores. Além disso, refletir sobre a formação do aluno-professor enquanto ele ainda está na universidade é primordial tanto para o discente quanto para o docente. Para o aluno essa reflexão pode se tornar auspiciosa já que, através dela, ele poderá desmistificar algumas angústias e dificuldades que podem ocorrer durante a prática de ensino e do estágio supervisionado. Já o professor-formador pode se beneficiar desse discernimento, uma vez que ele refletirá como o aluno desenvolve as dimensões cognitiva, teórica e pedagógica no decorrer do curso, além de refletir continuamente sobre sua própria prática pedagógica. Os resultados da pesquisa podem trazer propostas de mudança para o currículo do curso de Letras em vigor e contribuir para a formação de novas condutas por parte dos professores universitários. Os resultados serão difundidos na comunidade científica e poderão servir de referência para pesquisas futuras.

Palavras-chave: práticas pedagógicas; formação de professores; inglês como língua franca; multiletramentos

REFERÊNCIAS:
BAKTHIN, Mikhail. (VOLOCHINOV), Marxismo e filosofia da linguagem. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

EL KADRI, Michele Salles. Atitudes sobre o estatuto do inglês como Língua franca em um curso de formação inicial de professores. 2010. 179f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.

KRESS, Gunther. Literacy in the new media age. London: Routledge, 2003.

NEW LONDON GROUP. A pedagogy of multiliteracies: designing social futures. Harvard Educational Review, 66(1), 60-92, 1996.

NELSON, Mark Evan; KERN, Richard. Language teaching and learning in the postlinguistic condition? In: ALSAGOFF, Lubna; MCKAY, Sandra Lee; HU, Guangwei; RENANDYA, Willy A. Principles and practices for teaching English as an international language. New York: Routledge, 2012.

SILVA, Kleber Aparecido da (Org.) Ensinar e aprender línguas na contemporaneidade: linhas e entrelinhas. Vol.1, Campinas: Pontes Editores, 2010.

STREET, Brian.  The implications of the ‘New Literacy Studies’ for Literacy Education. In: English and Education, v. 31, n.3, Nate and Contributors, 1997.

TUCKMAN, Bruce Wayne. Manual de Investigação em Educação: como conceber e realizar o processo de investigação em Educação. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.

Atos de Polidez Pragmalinguística em trânsito na Comunidade Surda de uma Universidade Pública Federal.
Jaqueline Scotá Stein[20]

Linha de pesquisa: Linguagem e práticas sociais
Orientadora: Profa Dra Elena Godoi

Palavras-chave: Libras. Pragmática. Polidez Linguística. Atos de fala indiretos. Ato Ilocucionário. Implicaturas.

A pretendida comunicação versa sobre pesquisa inserida no campo da Pragmática social e intercultural. De modo mais específico no campo da Polidez Pragmática. A intenção investigativa volta-se para o uso das estratégias linguísticas de polidez na formulação de pedidos por Surdos; de modo mais particular, para o(s) possível(is) significado(s) em trânsito nas implicaturas pretendidas por alunos Surdos curitibanos em contexto universitário quando da formulação de pedidos em Língua Brasileira de Sinais.
Os conceitos que serão utilizados para alcançar o objetivo são os cunhados por Austin (1955), no que concerne aos atos de fala ou às coisas que fazemos com palavras e, por Brown e Levinson (1987) no que tange à polidez pragmalinguística.
A hipótese que se levanta é de que os usos linguísticos, isto é, a língua em trânsito, reflete a cultura em que o Falante e o Ouvinte estão imersos, o que demarca o modo como as implicaturas, no caso do Falante, são realizadas e significadas. Assim, de modo geral objetiva-se analisar algumas das estratégias pragmalinguísticas veiculadas na Comunidade Surda.
A pesquisa, no que pertine a esta comunidade, composta por Surdos e ouvintes, volta-se, exclusivamente, para o sujeito Surdo, cujos padrões linguísticos dado o ethos cultural que ocupa é muito distinto do dos ouvintes, ainda que, à primeira vista, ou no correr de olhos, pareça ele estar inserido numa mesma cultura que a daqueles que falam na modalidade oral-auditiva.
Por outro lado, levando-se em conta que a Língua Brasileira de Sinais se constitui a partir de diferentes recortes linguísticos e culturais e, também, a partir de realidades sociais e históricas muito específicas, a variante a ser analisada será a Língua de Sinais falada na cidade de Curitiba, locus universitário.
Meu interesse em pesquisar o tema iniciou-se com a participação no Workshop Internacional de Pragmática realizado em 2014 e, a ideia de estudar os significados linguísticos do que é dito e do que é ouvido, vale dizer, o significado linguístico em trânsito, ou melhor ainda, a interação, entre linguagem e cultura, vista pelas lentes da Pragmática, despertou rapidamente o meu interesse no estudo de tais fenômenos. Ouso dizer que o contato com a Pragmática tem promovido uma revolução copernianica nas minhas relações interpessoais, na minha visão de mundo, nas minhas compreensões e significações. Uma série de micro revoluções copernianicas têm-se operado no momento em que faço implicaturas e, no momento em que sou obrigada (porque é este o caso sempre) a inferir e a interpretar.
Desde a década de 80, estudos envolvendo atos de fala vêm sendo realizados em vários países (DIMITROVA-GALACZI, 2015) e, também, no Brasil (GODOI, 2007; DIAS, 2010; SANTOS, 2014). Contudo, não se conhece ainda estudos pragmalinguísticos envolvendo a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), língua que foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão há apenas quatro anos (BRASIL, 2012), mas que, não obstante, é falada pela comunidade surda há muitos anos, já que é a língua natural dos Surdos.
Os Surdos, por sua vez, em seus atos de fala, são vistos e interpretados num grande número de vezes pelos seus interlocutores ouvintes como impolidos, dada a diretividade que parece marcar suas estratégias pragmáticas, o que de certa forma tem fortalecido dentro da comunidade falante da Língua de Sinais um estereótipo cultural, ou melhor, um filtro cultural estereotipado acerca desse sujeito linguístico e cultural distinto do ouvinte. Contudo, pensando em termos pragmáticos, o que parece ser o caso, é que o que ocorre, de fato, é uma diferença de grau de diretividade nos enunciados em Libras em relação ao português falado. Dito de outro modo, parece que as estratégias pragmalinguísticas utilizadas pelos Surdos na formulação de pedidos não são as mesmas das praticadas pelos ouvintes. É possível, inclusive, supor que “en situaciones reales, este hecho pueda provocar serios malentendidos, además de crear estereotipos negativos debidos a las actitudes pragmáticas específicas características de cada cultura.” (GODOI, 2007, p. 6)

METODOLOGIA

As coletas de dados na Pragmática tem sido feitas por meio de questionários escritos conhecidos como DCT (Discourse Completion Test - DCT) onde o participante é convidado a completar os diálogos narrados com a conduta discursiva que optaria por realizar caso estivesse na cena enunciativa. Assim, observando a tradição, minha opção para a coleta dos dados será o DCT, na modalidade escrita da língua portuguesa para os participantes ouvintes e para os Surdos, na modalidade viso-espacial, isto é, os questionários serão traduzidos para a Língua Brasileira de Sinais, uma vez que a língua portuguesa é a L2 dos Surdos, vale dizer, o português não é a sua língua natural, onde aparecem os aspectos estereotipados da conduta discursiva. (BALLESTEROS, 2001, apud DIAS, 2010, p. 92), onde as emoções estão fortemente sobrepostas e na qual a bandeira da lealdade costuma ser hasteada (RAJAGOPALAN, 2010, p. 218). 

REFERÊNCIAS
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BRASIL. Lei n º 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e dá outras providências. Brasília. 2002.
BRITO, L. F. Por uma gramática de Língua de Sinais. Rio de Janeiro: UFRJ, 19995
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DIAS, L.S. Estratégias de polidez linguística na formulação de pedidos e ordens contextualizados. Tese de Doutorado. Curso de Pós-Graduação em Letras, UFPR, 2010.
DIMITROVA-GALACZI, E. Issues in the Definition and Conceptualization of Politeness. Working Papers.Columbia University, 2015.
FINAU, R. A. Uma descrição das categorias tempo/aspecto da Libras para demonstrar a formação de um sistema de interlíngua. Tese de Doutorado. Curso de Pós-Graduação em Letras, UFPR, 2003.
FRYDRYCH, K. O Estatuto linguístico das Línguas de Sinais: A Libras sob a ótica Saussuriana. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Letras, UFRG, 2013.
GODOI, E. Las estrategias pragmáticas de atenuación e imposición en algunas variantes de español y portugués. In: VII CONGRESO LATINOAMERICANO DE ESTUDIOS DEL DISCURSO ALED. HORIZONTES DE SENTIDO, 1. Bogotá, 2007.
LADD, P. Understanding Deaf Culture: In Search of Deafhood. Clevedon: Multilingual Matters Ltd., 2003.
RAJAGOPALAN, K. Nova Pragmática: fases e feições de um fazer. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
SANTOS, S. L. O enigma da piada: convergências teóricas e emergência pragmática. Ponta Grossa: UEPG, 2014.
SKLIAR, C. ¿Y si el otro no estuviera ahí? Buenos Aires: Miño y Dávila, 2002.
STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: UFSC, 2008.
VIOTTI, E. Introdução aos estudos linguísticos. Florianópolis. Curso de Licenciatura em Letras-Libras, 2008.



NÃO TENHO PRECONCEITO, MAS… SERÁ QUE TENHO?

Linha de Pesquisa: Linguagens e Práticas Sociais
Autor: Marco Antonio Rocha
Orientadora: Lígia Negri

Resumo expandido:
A proposta de análise dos articuladores linguísticos como articuladores argumentativos de Ducrot é uma forma de mostrar como a própria língua apresenta recursos para se argumentar. Um dos estudos que corroboram com essa teoria é a descrição do funcionamento do articulador “mas”, proposto por Vogt e Ducrot (1981). Contudo, ao olhar para enunciados reais — e não idealizados como fizeram os autores, surgem alguns problemas. Talvez seja possível que o “mas” apresente outras características a depender de outros fatores linguísticos postos em relação a ele em determinado enunciado, e estas outras características podem ser encontradas ao se pensar num nível discursivo de análise dos enunciados. Este trabalho, entretanto, ainda apenas analisa enunciados com o articulador de forma isolada, mas levanta questionamentos sobre sua análise justamente por se levar em consideração o contexto em que estão inseridos.
De acordo com Vogt e Ducrot (1980), em resumo, enunciados que apresentam a estrutura p, mas q, sendo p e q enunciados com direções argumentativas diferentes e geralmente opostas, valem-se do argumento de p para fortalecer o argumento de q, ou seja, quando p é refutado por q, sua presença serviu para deixar q mais forte. Por exemplo, no enunciado “esta casa é bonita, mas é cara”, dizer “a casa é bonita” é um argumento para que ela seja comprada; em contrapartida, dizer “esta casa é cara” é um argumento para não a comprar. Dessa forma, o argumento do enunciado “é bonita, mas é cara” vai em direção de não comprar a casa. Contudo, dizer que a casa é bonita serve para reforçar o quanto ela é cara e, por isso, essencial ao enunciado: quanto mais bonita a casa for, mais cara ela será e, portanto, maior será o argumento para não a comprar.
Entretanto, não parece tão evidente que o objetivo de se iniciar um enunciado com “eu não tenho preconceito” seja reforçar o que vem após o “mas”. Parece-me, ao contrário, que a intenção é suavizá-lo e não o reforçar. Uma das hipóteses possíveis deste trabalho é que isso ocorre por conta da polifonia presente na negação do enunciado. De acordo com Ducrot (1981) a negação na linguagem comum sempre pressupõe um enunciado polifônico — quando se diz “esta casa não é bonita”, pressupõe-se que alguém pode sim achá-la bonita, que uma outra voz tenha dito “esta casa é bonita” para que então a negação viesse a surgir. Por outro lado, dizer “não tenho preconceito” não parece ser um reforçador para dizer “tenho preconceito”, pelo contrário, parece ser uma forma de suavizar o que vem depois, não reforçar.
O jornal Estadão, em sua página do Facebook, publicou no dia 20 de dezembro de 2016 a seguinte manchete: “Aluno do ITA protesta de salto alto e vestido vermelho durante colação de grau” junto do comentário “Objetivo de Talles era se opor a homofobia na Instituição da Aeronáutica”. Dentre algumas centenas de comentários que li dos quase 4,5 mil, muitos apoiavam a ideia, outros muitos a repudiavam com bastante fervor, e alguns utilizavam o articulador “mas” para balancear seu ponto de vista. Selecionei dois exemplos para analisar segundo a descrição do articulador proposta por Vogt e Ducrot (1980).

Que merda…
O cara quer ser homossexual isso problema dele, mas fazer isso numa cerimônia militar !!!
Tem disciplina, hierarquia, padronização, tudo isso é importante pra manter a ordem dentro das FFAA!!!
E o cara faz uma palhaçada dessa… se ele tiver achando que ganhou respeito só conseguiu o contrário !!!
O cara acaba com preconceito sendo um excelente profissional e não fazendo essas merdas, obrigando todo mundo aceitar, querendo que os outros engulam guela abaixo !!!! (sic) (ESTADÃO, 2016)

O foco da análise deste comentário, pelo menos nesta altura do trabalho, está na sentença com o “mas” e como ela tem uma direção argumentativa que revela o preconceito (talvez velado) do enunciador. Embora o tom preconceito do comentário não se restrinja apenas a essa sentença — muitas expressões que ele utiliza também são carregadas de preconceito: “Que merda”, “uma palhaçada dessa”, “obrigando todo mundo aceitar” (sic) —, é a partir dela que tentarei buscar os efeitos de sentido do comentário todo no desenrolar da pesquisa.

(1) o cara quer ser homossexual isso (é) problema dele, mas fazer isso numa cerimônia militar!

Nesse contexto, o enunciado p [o cara quer ser homossexual isso (é) problema dele] aponta para uma conclusão r em que o enunciador se exima de ter preconceito, afinal, cabe somente à pessoa ser homossexual, isso é problema dela. É possível definir que r é igual a [não tenho preconceito]. A partir da disposição p, mas q, q [fazer isso numa cerimônia militar!] leva a uma conclusão ~r, ou seja, [tenho preconceito]. Entretanto, esta conclusão do argumento não parece tão evidente, é preciso entender que “fazer isso” equivale a “usar um vestido enquanto se é homem”, que também equivale a “ser homossexual”. Dessa forma, o enunciado p, mas q aponta para a conclusão ~r.
Se “o cara quer ser homossexual e isso é problema dele”, espera-se que ele pode ser homossexual em qualquer ambiente. O “mas” delimita esse “qualquer ambiente”: pode ser homossexual em qualquer ambiente, exceto numa cerimônia militar. Por que, então, há preconceito? Porque a conclusão ~r delimita a condição de ser homossexual para determinados ambientes: “pode ser homossexual em qualquer lugar, mas não pode ser homossexual numa cerimônia militar”. É possível “não ser” em determinados ambientes?
A questão que fica é: é possível reduzir as conclusões r e ~r apenas para “tenho preconceito” e “não tenho preconceito”? Não haveria uma escala entre ter preconceito e não ter? Além disso, o que é ter preconceito e qual é o entendimento do enunciador sobre isso? Essas questões não são possíveis de serem respondidas apenas pela análise do “mas”, é necessário ir para o nível do discurso e pensar a respeito do sujeito que enuncia nesse comentário.
Esse comentário acima analisado não é exceção; todos os que aparecem até então com o articulador “mas” precisam de uma análise no nível discursivo para responder a essas perguntas. Vejamos outro:

Cadê os pais deste infeliz… uma boa tunda de vara e uns quantos meses sem ser mexer iria mudar muita coisa.
Não sou homofóbica.. não tenho nada contra… cada um sabe dizer si… mas estas atitudes são vergonhosas.
Que sustenta o bonitinho aí não ensinou respeito???
Meu quanta palhaçada…. (sic) (ESTADÃO, 2016)

(2) Não sou homofóbica, não tenho nada contra… mas estas atitudes são vergonhosas.

Este fica um pouco mais evidente, uma vez que o enunciado p já apresenta explícita a conclusão r [não sou homofóbica, não tenho nada contra], enquanto que o enunciado q [estas atitudes são vergonhas] deixa claro que o enunciador não aprova o modo de ser, ou de protestar, de um homossexual, levando à conclusão ~r. Logo,

(2) [ [p (não sou homofóbica) à r (não tenho preconceito) ], mas [q (estas atitudes são vergonhas) à ~r (tenho preconceito) ] à ~r [tenho preconceito]

Outro problema que surge na descrição do “mas” proposta por Vogt e Ducrot (1980) é o estabelecimento de que nos enunciados com o “mas” argumentativo o enunciado p, em p, mas q, apresenta uma manutenção forte justamente porque serve como reforço à conclusão estabelecida por q. Não me parece que concluir “não tenho preconceito” em p seja uma forma de reforçar a conclusão “tenho preconceito” de q, muito pelo contrário. Talvez por haver uma negação na conclusão r [não tenho preconceito], o efeito seja amenizar o enunciado q, não o reforçar.
A partir dessas análises, resta olhar para o corpus a partir da Análise do Discurso para poder confirmar o funcionamento do “mas” nesses tipos de enunciado, uma vez que olhar para situações imaginárias da língua, levando em conta um falante idealizado, talvez seja mascará-la e, assim, deixar de pensar em aspectos relevantes dela.

Palavras-chave: Mas, Teoria da Argumentação na Língua, Preconceito

Referências:
CAMPOS, Claudia Mendes. O percurso de Ducrot na teoria da argumentação na língua. Revista da Abralin, João Pessoa: UFPB, v.6, n. 2, p.139-169, jul/dez 2007.
DUCROT, Oswald. O papel da negação na linguagem comum. In: _____. Provar e dizer: Linguagem e Lógica. São Paulo: Global, 1981, p.93-104.
ESTADÃO. Facebook. 20 dez 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/estadao/posts/1741209022560819>. Acesso em: 20 abr 2017.
GUIMARÃES, Eduardo. Mas, embora: argumentação, polifonia e estratégias de relação. In: _____. Texto e argumentação: um estudo de conjunções do português. Campinas: Pontes, 2007. p.109-122.
VERAS, Viviane. Mundo, mas linguagem: uma leitura semântica da conjunção mas. 1989. 112 fls. Dissertação (Mestrado em Linguística) — Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 20/12/1989.
VOGT, Carlos; DUCROT, Oswald. De magis a mas: uma hipótese semântica. In: VOGT, Carlos. Linguagem, pragmática e ideologia. São Paulo: HUCITEC, 1980. p.103-128.


UMA ANÁLISE ANTILEXICALISTA PARA A DERIVAÇÃO REGRESSIVA LEXICALISTA

Linha: estudos gramaticais – descrição, análise, teoria, metateoria e historiografia
Autor: Maurício Resende (UNICAMP)
Orientador: Maria Filomena Spatti Sândalo (UNICAMP)
Debatedor: Maria Cristina Figueiredo Silva (UFPR)

Resumo: a tradicionalmente chamada derivação regressiva talvez seja, para o português, o processo morfológico de formação de palavras que apresenta maior número de controvérsias na literatura linguística no que tange à sua caracterização. Isso porque o que alguns autores chamam de “derivação regressiva” contempla, às vezes, mais de uma operação morfológica formadora de palavras, ou seja, a noção de que uma dada palavra sofreu algum tipo de redução (no caso, regressão) na sua forma com relação à palavra que lhe deu origem levou alguns estudiosos a tratarem como instância de derivação regressiva vocábulos formados por abreviação (BASÍLIO, 1987), retroformação (cf. SPENCER, 1991), truncamento (ROCHA, 1998). Pondo de lado esses casos, o que consensualmente tem aparecido na literatura como instância de derivação regressiva são nomes como fala, corte e beijo que derivariam de seus respectivos verbos cognatos por meio de alguma operação morfológica que ainda não está totalmente clara (isto é, se envolve um processo de sufixação zero, de apagamento/substituição, de conversão, de adjunção de vogal temática etc.). Adicionalmente, por definição, a caracterização de tal processo envolve o problema da direcionalidade da formação, ou seja, a falta de critérios pouco claros para determinar se, dado um par verbo/nome como falar/fala, o verbo deu origem ao nome (por meio de uma derivação regressiva) ou o verbo originou do nome (por meio de uma derivação progressiva, isto é, sufixal). Paralelamente à divergência terminológica (que, por ora, é deixada de lado no presente trabalho), tanto a questão da direcionalidade da formação quanto a constituição morfológica dos nomes deverbais formados por derivação regressiva envolvem pressupostos lexicalistas, isto é, assumem a existência de um componente gramatical autônomo, dentro do qual ocorrem operações morfológicas que geram os itens que alimentam a sintaxe, ou seja, o Léxico. Desse modo, uma análise que não parte da existência de um léxico (no caso, uma análise não lexicalista), por definição, resolve dois dos maiores problemas encontrados para a derivação regressiva simplesmente porque em uma abordagem antilexicalista, eles não se colocam. Além disso, cumpre notar que existem outros fenômenos (fonológicos, sintáticos e semânticos) que subjazem à existência/ocorrência dos nomes (até então “deverbais”) em questão, a saber, mudança (ou não) da altura da vogal – do verbo com relação ao nome; preservação (ou não) da grade argumental do verbo quando este se nominaliza; ambiguidade processo/produto, para citar apenas alguns exemplos. Dadas essas considerações, o presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta antilexicalista, assumindo os pressupostos da Morfologia Distribuída (HALLE & MARANTZ, 1993, 1994; MARANTZ, 1996, 1997), para a caracterização fonológica, morfológica, sintática e semântica dos então chamados “derivados regressivos”. Primeiramente, dentro do quadro da Morfologia Distribuída (MD), os primitivos sintáticos são raízes acategoriais e feixes de traços gramaticais e semânticos – todos desprovidos tanto de conteúdo fonológico quanto de conteúdo semântico não relevante para a sintaxe – em detrimento de palavras ‘fechadas’, opacas para a sintaxe. Assim, assumindo Marantz (1996, 1997), o primeiro passo para derivar um nome envolve a manipulação de raízes acategoriais do tipo de √fal, √cort e √grit, o que resulta na derivação de duas estruturas sintáticas distintas a depender da interpretação que se quer veicular. A primeira delas, no caso de nomes com leitura resultativa, isto é, com interpretação exclusivamente nominal, com base em Oltra-Massuet & Arregi (2005), é necessário tanto que a raiz se concatene a um categorizador nominal n quanto que esteja c-comandada por um núcleo funcional D, derivando assim [[√cort]n] DP – uma nominalização de raiz. Adicionalmente, para Embick (2000), a interpretação verbal presente em um nome (ou seja, a de leitura eventiva/estativa) pode ser captada por uma estrutura em que uma raiz como √cort se concatena a um verbalizador v e, posteriormente, a um núcleo aspectual Asp; em seguida a estrutura resultante se junta a um categorizador n, a qual é c-comandada por um núcleo funcional D, derivando [[[[√cort] v] Asp] n] DP. A respeito dessas estruturas, convém tecer ainda três observações: primeiramente a ambiguidade processo/produto presente nos nomes deverbais lexicalistas é explicada na MD por meio da postulação de duas estruturas diferentes, mas com coincidência fonológica já que na inserção de Vocabulário (HALLE & MARANTZ, 1993) [Asp ↔ Ø] e [n ↔ Ø]. Em segundo lugar, Massuet (1999) entende que a estrutura morfológica das línguas românicas prevê a existência de uma posição temática sempre que houver a projeção de um núcleo funcional F; portanto, a concatenação de uma raiz com n (mas também com v) requer a inserção de uma vogal temática τ, a qual – como defende Alcântara (2003) para o português – está listada no Vocabulário em termos de regras como τ ↔ /o/ __ [α], τ ↔ /a/ __ [β] e τ ↔ /e/ __ [γ], em que α, β e γ representam classes de raízes, cada uma compatível com uma vogal temática distinta – as quais são idiossincráticas e, portanto, devem estar listadas. Isso explica, por exemplo, porque nomes com diferentes leituras (= diferentes estruturas) apresentam a mesma vogal temática, já que ela é dependente da raiz. Finalmente, com relação aos nomes com leitura eventiva/estativa, são necessárias duas operações: a primeira é a de que o verbalizador v ao qual, no exemplo, a raiz cort se adjunge seja capaz de projetar um agente (MARANTZ, 1997), ou então, uma causa externa – nos termos de Levin & Rappaport-Hovav (1995); a segunda operação envolve a implementação de alguma forma de preservar a grade argumental da raiz quando ela se concatena com v (no caso de verbos e de nomes com leitura verbal) já que, assumindo Zucchi (1993), os elementos participantes do evento/estado são argumentos do predicador verbal (e não adjuntos – mesmo no caso dos constituintes introduzidos por
por e por de ) e, por esse motivo, devem aparecer na estrutura sintática antes da inserção de Vocabulário. Ainda que um grande número de fenômenos tenha sido deixado de fora desta breve exposição, o presente trabalho pretende mostrar que a maquinaria fornecida pela MD não só oferece uma maneira mais elegante e econômica de tratar os problemas relacionados à tradicional derivação regressiva, mas também enseja um maior alcance explanatório para as questões que envolvem esse processo morfológico bem como uma inter-relação melhor motivada entre elas.
Palavras-chave: Derivação regressiva. Nome deverbal. Morfologia Distribuída.


OS EFEITOS DE UM TREINAMENTO DE PERCEPÇÃO NA AQUISIÇÃO DOS HETEROTÔNICOS DO ESPANHOL POR ESTUDANTES BRASILEIROS
Linha de pesquisa: Linguagens, culturas e identidades: ensino e aprendizagem
Autora: Pollianna Milan
Orientadora: Prof. Dra. Denise Cristina Kluge
Debatedor: Prof. Dr. Francisco Calvo del Olmo

Palavras-chave: Treinamento de percepção; Heterotônicos; Espanhol; Aquisição de L2.


Introdução
           
            Esta pesquisa investiga os efeitos de um treinamento de percepção na aquisição do acento dos heterotônicos do espanhol por estudantes brasileiros. Acreditamos que os alunos de espanhol como L2 tenham dificuldades de aprender este padrão acentual visto que as palavras heterotônicas desta L2 são iguais ou bastante semelhantes ao português brasileiro (L1), diferenciando-se apenas na sílaba tônica. Por isso este padrão acentual seria pouco produtivo para estes estudantes, já que eles tenderiam a falar as palavras com a tonicidade de sua L1. A partir deste contexto, nos baseamos nos pressupostos da teoria da Fonologia de Uso, que defende que os aprendizes de uma segunda língua necessitam de exposição repetida do input para o desenvolvimento das estruturas cognitivas que conduzem para a fala fluente e gramatical (Bybee, 2008). Como esta teoria reforça que usuários da língua retêm informações específicas a partir da própria experiência deles com esta língua alvo, nos propomos a aplicar um treinamento de percepção e, assim, investigar se este treinamento será capaz de melhorar a produção de heterotônicos por estudantes brasileiros a partir da aplicação e repetição do input correto.
            A hipótese desta pesquisa é a de que os estudantes brasileiros armazenam poucos exemplos de heterotônicos do espanhol pelo fato de que eles falam estas palavras com a tonicidade de sua L1, principalmente porque elas são bastante semelhantes, ou seja, produzem estas palavras muitas vezes sem perceber que há diferenças na sílaba tônica da L1 para a L2. Bybee (2001, p. 64) lembra que a aceitabilidade dos padrões articulatórios está baseada na experiência de uso, em que “padrões que não estão presentes não são aprendidos e são geralmente considerados inaceitáveis, já padrões com grande frequência de uso são considerados os mais aceitáveis pelos falantes”[21]
            Este projeto foi motivado pelo estudo de Albini (2012) que comprovou a eficácia do treinamento de percepção do padrão acentual pré-proparoxítono do inglês por parte dos estudantes brasileiros. Após o treinamento, estes aprendizes de inglês melhoraram a produção das palavras pré-proparoxítonas. Assim, nosso estudo pretende responder: (i) o treinamento de percepção fará com que os aprendizes percebam o acento heterotônico do espanhol? (ii) este treinamento ajudará na melhoria da produção dos heterotônicos pelos participantes? (iii) haverá diferença na produção dos heterotônicos entre os dois grupos pesquisados? Grupo controle e Grupo experimental? (iv) os efeitos do treinamento perceptual serão aplicados a novos heterotônicos na produção? (v) após dois meses do treinamento a melhora na produção dos heterotônicos será mantida?
            Para testar a eficácia do treinamento de percepção montado para este estudo, rodamos um piloto com participantes distintos dos que serão utilizados na tese. Este piloto contou com quatro professores de espanhol da rede estadual de ensino, por isso, apresentaremos brevemente alguns resultados deste estudo experimental na arguição que será feita durante o Fórum Discente, pois os dados ainda estão em análise.

Os heterotônicos

            A maioria das palavras, em português brasileiro e espanhol, possui a mesma localização da sílaba tônica, conservando a posição que herdaram das línguas de origem (principalmente grego e latim). Porém, segundo Silva (2008), o grupo dos heterotônicos sofreu uma transposição do acento ou no português ou no espanhol (isso pode variar), fazendo com que a tônica se localize, em alguns casos, em diferentes sílabas nas duas línguas em questão. O estudo de Silva (2008) fez uma análise contrastiva e histórica sobre os heterotônicos e servirá de base para o nosso estudo, pois explica o que aconteceu com o passar dos anos com uma parte das palavras que serão usadas no nosso corpus. Silva (2008) afirma que a diferente evolução linguística destas palavras pode ser de dois tipos, (i) quando ocorre a transposição do acento de uma sílaba para a anterior, também chamada de sístole; (ii) ou quando ocorre a transposição do acento de uma sílaba para a posterior, também chamada de diástole. Vejamos este exemplo. A palavra REBRO, em português, é uma proparoxítona e manteve o mesmo padrão de acentuação de sua origem, do latim. Já em espanhol, CEREBRO, é uma paroxítona porque sofreu diástole.
            O corpus deste estudo é formado por 117 heterotônicos. A distribuição deles nos testes e no treinamento perceptual será explicada abaixo.
Informantes do estudo piloto

            Nosso estudo piloto contou com 4 informantes, professores de espanhol da rede estadual de ensino, do Paraná. Eles foram divididos em dois grupos: 2 professores pertencem ao Grupo Experimental (GE) e 2 ao Grupo Controle (GC). O GE é o grupo dos professores que fizeram os testes e participaram do treinamento. O GC é o grupo dos que também fizeram os testes, mas NÃO participaram do treinamento. Assim, foi possível diagnosticar se a possível melhora do GE foi devido ao treinamento em si ou não, se os dois grupos melhoraram de igual maneira devido à repetição dos testes. Cada grupo (GC e GE) era formado por um professor do sexo masculino e feminino e todos tinham mais de dois anos de experiência como docentes no estado.

Locutores

            Oito falantes nativos da língua espanhola serviram como locutores deste estudo. Eles gravaram todos os estímulos presentes em todos os testes. Os locutores têm a variedade do espanhol da América Central e da América do Norte, isto porque, foram os falantes de espanhol como L1 que encontramos em Curitiba, na época da gravação do corpus, e que estavam dispostos a nos ajudar neste estudo.  Conseguimos, então, dividi-los da seguinte maneira:
            4 mexicanos: 3 deles da Cidade do México e um de Chiapas. 2 homens e 2 mulheres. Idade entre 29 e 31 anos.
            2 cubanos: ambos de Havana. Um homem e uma mulher, ela com 20 anos e ele com 28 anos.
            2 hondurenhos: ele da cidade de La Ceiba e ela da capital de Honduras, Tegucigalpa. Os dois com 19 anos.
           
Metodologia                  

            Os testes e o treinamento de percepção foram divididos da seguinte maneira:

1 – Pré-teste de produção: os informantes (do GE e do GC) deveriam ler frases (no Power Point) com 40 heterotônicos inseridos nelas como, por exemplo, “Tengo alergia al polen y en primavera me pongo muy enfermo”. Depois, eles deveriam falar as mesmas 40 palavras heterotônicas e mais 20 palavras distratoras inseridas na frase veículo “Yo dije _____”, duas vezes. Todas as palavras foram embaralhadas aleatoriamente e projetadas no Power Point para a leitura.
2 – Pré-teste de percepção: os informantes (do GE e do GC) escutavam as 40 palavras heterotônicas e os 20 distratores (os mesmos do Teste 1), porém, falados pelos 4 mexicanos aleatoriamente. Os informantes deveriam identificar qual era a sílaba tônica da palavra escutada. Foram 240 estímulos.
3 -  Treinamento de percepção: apenas os informantes do GE participaram desta etapa. Eles escutaram heterotônicos novos (sem distratores) e deveriam dizer qual era a sílaba tônica até chegarem a resposta certa. Os novos 58 heterotônicos foram repetidos duas vezes, aleatoriamente, falados pelos 4 mexicanos, totalizando 464 estímulos.
4 – Pós-teste de produção com teste de generalização: os informantes (do GE e do GC) repetiram o Teste 1, porém, juntamente com os 40 heterotônicos e os 20 distratores, foram acrescentados outros novos 19 heterotônicos e 10 distratores que serviram para o teste de generalização.
5 – Pós-teste de percepção com teste de generalização: os informantes (do GE e do GC) repetiram o Teste 2, porém, escutaram novos 19 heterotônicos e 10 distratores para o teste de generalização. Estes 19 heterotônicos e 10 distratores eram falados não mais pelos mexicanos, mas sim pelos hondurenhos e cubanos.
6 – Pós-teste de produção postergado: depois de 45 dias (no caso do estudo piloto) os informantes (do GE e do GC) repetiram o Teste 1.
7 – Pós-teste de percepção postergado: depois de 45 dias (no caso do estudo piloto) os informantes (do GE e do GC) repetiram o Teste 2.

            A explicação sobre como se dará a análise dos dados e os resultados serão explicitados na arguição no Fórum Discente.

Algumas referências

ALBINI, A. “Os efeitos de um treinamento de percepção na aquisição do padrão acentual pré-proparoxítono da língua inglesa por estudantes brasileiros”. Tese de doutorado, 339 fls. Universidade Federal do Paraná: Curitiba, 2012.

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BYBEE, J. Language, Usage and Cognition. Cambridge: Cambridge University
Press, 2010.

SILVA, E.B. Análise contrastiva de aspectos fonológicos de heterotônicos entre português e espanhol. Dissertação de mestrado, 92 fls, Universidade Federal de Alagoas: Maceió, 2008.




O USO DE L1 EM AULAS DE L2 NO CONTEXTO DE UM CENTRO DE LÍNGUAS
Linha de pesquisa: Linguagens, culturas e identidades
Mestranda: Paola Machado da Silva
Orientação: Francisco Carlos Fogaça
Debatedor: Ronald Barry Martinez ou Eduardo Henrique Diniz Figueiredo
O que me interessou particularmente nesse tema é o quanto ele se faz presente nas salas de aula, com práticas e crenças atreladas a ele, mas com pouca ou nenhuma discussão a respeito dos pressupostos teóricos que o subjazem. Ao trabalhar como professora em um centro de línguas, não foi difícil notar tal fato. Os materiais didáticos e diretrizes oficiais parecem tentar se esquivar da incumbência de definir o quanto de L1 seria desejável que se utilizasse como recurso didático; relegando ao docente a tarefa de decidir. Como muito bem colocado por Kerr (2016), essa questão representa um  “elephant in the room”, ou seja, um ponto que precisa ser discutido, pois está ali presente no dia a dia de todo professor de língua estrangeira, no entanto, acaba sendo deixada de lado na maior parte do tempo.
O principal objetivo desta pesquisa, como deve ter ficado subentendido, é observar como se dá o uso do português brasileiro (PB) nas aulas de inglês de nível pré-intermediário no CELIN – UFPR. As perguntas que norteiam esta pesquisa são as seguintes: 1) em que situações a L1 é usada em sala de aula? 2) como os alunos reagem ao uso de L1 por parte do professor e dos colegas de aula? 3) quais são as crenças que os professores e alunos têm acerca do uso de L1 em sala de aula? Que noções de língua subjazem tais crenças? A pesquisa será realizada com os alunos de duas turmas de nível pré-intermediário, e com as duas professoras das turmas.
Optamos por este nível em específico por se tratar de um nível quase que intermediário, em que poderemos observar de que forma (em caso positivo) os alunos e professores usam português em sala de aula.  Os instrumentos a serem utilizados serão: a) observações de aulas (com possibilidade de gravação em vídeo, caso haja permissão para tanto), b) entrevistas com os professores e alunos e c) questionário para os alunos. Temos a intenção de observar duas turmas do nível selecionado, para que um paralelo possa ser estabelecido entre os docentes e discentes observados.
A análise dos dados será de cunho qualitativo-interpretativista, ou seja, não supomos que chegaremos à verdade absoluta da prática dos discentes observados, nem é esse nosso objetivo. Temos consciência de que a presença de um observador interfere na rotina da sala de aula e estamos confortáveis com isso, pois não se trata de uma pesquisa de natureza positivista. De mesmo modo, outros pesquisadores ao observarem ou, até mesmo, ao se depararem com nossos achados poderiam interpretá-los de maneira distinta. Por esta razão, classificamos a análise de interpretativista.
Esta pesquisa se baseia em pesquisas realizadas sobre o uso de L1 na aula de L2, tais como Cook (2001), Kelleher (2013), Bhooth et al (2014), entre outros. Cook (2001) reavalia certas crenças a respeito do uso de L1 na aula de L2, enquanto desmistifica questões como compartimentalização de línguas na mente e qualidade de input de L2. Para além dessas questões, o autor lista situações em que o uso de L1 seria possível e, até mesmo, mais adequado. De acordo com Cook (2001), o professor poderia recorrer à L1 para checar compreensão, explicar gramática, organizar a sala de aula ou tarefas (logística), etc. Utilizamos esta lista e outros autores como Kerr (2016) como embasamento teórico para formular um instrumento de observação de aulas para a presente pesquisa.
     Em um artigo mais recente, Kelleher (2013) defende que conforme os alunos se sintam mais confiantes e relaxados, eles naturalmente recorrerão menos à L1. E em sua pesquisa, ficou confirmada a eficácia do uso de L1 na aprendizagem de gramática e vocabulário. Contudo, Kelleher (2013) chama atenção para a importância de se utilizar a L1 de forma planejada previamente e utilizada de forma a ainda maximizar o uso da língua-alvo.
Bhooth et al (2014) concluiu em seu estudo que a L1 era utilizada como estratégia para o aprendizado dos alunos (traduzir palavras, definir conceitos, ajudar uns aos outros, etc.). No entanto, há no artigo novamente a recomendação para que os instrutores não dependam em demasia da L1 em sala de aula. Para os autores, portanto, o uso da L1 deve ser equilibrado.
Butzkamm & Caldwell (2009) afirmam que o uso da própria L1 é o melhor recurso pedagógico que um aluno traz para o aprendizado de uma língua estrangeira, “pois forma a base para todas as outras línguas que queiramos aprender”. Butzkamm & Caldwell (2009) não defendem apenas uma postura mais flexível e menos rígida em relação ao uso da própria língua/língua materna em sala de aula, eles desenvolvem maneiras em forma de atividades e recursos para que a língua materna possa integrar a prática de ensino-aprendizagem da língua estrangeira.
       Macaro (2006) argumenta que a literatura não conseguiu demonstrar de forma satisfatória que um ensino monolíngue tenha sido capaz de melhorar o aprendizado da língua adicional de alguma maneira. De acordo com o autor, não é de se espantar que alunos recorram a L1 para realizarem tarefas, ainda mais quando não tiveram aquele tipo específico de input (i.e., input de task management). Segundo ele, neste exemplo de situação, os alunos estão negociando significados, que é uma maneira de compensar o gap linguístico existente ali. Macaro, vai além e rebate o argumento, tão comumente utilizado por professores, de que ao recorrem as suas L1s, os alunos estariam pensando nela e desperdiçando a oportunidade de pensar na língua-alvo. O autor afirma que já há na literatura estudos que refutam essa ideia, tais como o estudo de Cohen (1998), que demonstra que mesmo os aprendizes de algum idioma que estão nos níveis mais avançados pensarão em sua L1 enquanto estiverem performando em sua língua adicional ou em qualquer outra, pois sua língua de pensamento (language of thought) será sempre sua L1. Sendo assim, um dos principais argumentos de defesa do ensino monolíngue acaba se demonstrando uma falácia.
Em suma, lançaremos mão de diferentes métodos para, em contextos de nível e centro de língua específicos, como se dá o ensino do inglês como língua estrangeira para falantes brasileiros. De que maneira os professores, também brasileiros, utilizam o denominador comum que têm com seus alunos, se o aproveitam ou não e por qual razão (crenças, embasamento teórico, intuição etc.)
Palavras-chave: L1; L2; inglês como língua estrangeira; beliefs; uso de PB como recurso didático


Letramento e Identidade: um estudo das práticas de letramento e negociação identitária em uma sala de aula multilíngue de português para falantes de outras línguas (PFOL)

Linha de Pesquisa: Linguagem e Práticas Sociais
Discente: Pamela P. Cabral da Silva
Orientadora: Profª Drª Cloris Porto Torquato
Debatedora: Profª Drª Ligia Negri

Na presente pesquisa pretendemos verificar as práticas de letramento e negociação identitária em um grupo multilíngue composto por migrantes, dentre esses alguns portadores de visto humanitário e intercambistas, estudantes da variante do Português Brasileiro, no curso de Português para Falantes de Outras Línguas (PFOL), ofertado de forma gratuita pelo Departamento Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas (DALEM), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Curitiba.
Geraldi (2011) aponta que um dos aspectos fundamentais para a construção da identidade é ter em mente que as pessoas nascem em um mundo de linguagem e que estão negociando e atribuindo valores e significados aos outros sobre o que são o tempo todo. Logo, pensar a inserção de qualquer ser humano nas diferentes esferas da sociedade é ter como certo que a identidade será sempre relacionada ao contexto em que esse sujeito experiencia, ao mesmo tempo em que mobiliza outras variáveis subjetivas da vida mental e social.
Stuart Hall (2006) assinala que os sujeitos constroem diferentes identidades em diferentes momentos e contextos, quase sempre de forma contraditória e que a empurra para diferentes direções, e essas já não são mais unificadas, coerentes ou construídas biologicamente. Em um contexto multilíngue, como apontam Pavlenko e Blacklegde (2014), a escolha da língua e atitude são inseparáveis de posicionamentos políticos, relações de poder e ideologias linguísticas. Há alguns momentos em que a língua pode funcionar como marcador de nacionalidade ou etnia, como capital simbólico ou como meio de controle social.
Além do contexto multilíngue, há também migrantes com visto humanitário. E sobre essas configurações de migração diaspórica, Hall (1996), assinala que a experiência da diáspora “não é definida por pureza ou essência, mas pelo reconhecimento de uma diversidade e heterogeneidade necessárias; por uma concepção de “identidade” que vive com e através, não a despeito, da diferença; por hibridação” (HALL, 1996, p. 75). Por fim, aponta que essas identidades de diásporas são as que estão em constantemente produzindo-se e reproduzindo-se novas, através da transformação e diferença.
Volochínov (2014), observa que as palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios. Dessa forma, de acordo com os autores até aqui expostos, acreditamos que a língua(guem) funciona como um mecanismo de exclusão e silenciamento de indivíduos e grupos tidos como minoritários, tanto quanto as práticas letradas, que podem ser conduzidas desse modo.
O termo letramento tem figurado nas discussões acadêmicas no Brasil desde a década de 1980. Segundo Soares (2010), o termo vem do inglês literacy, e aparece para conceituar “o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever” (SOARES, 2010, p.17). Dessa forma, o termo “implica não apenas na ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas e linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprende a usá-la” (SOARES, 2010, p. 17).
Ângela Kleiman (1995) assinala que os estudos de letramento são um fenômeno que “extrapola o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos ao mundo da escrita” (Kleiman, 1995, p. 20). Para Street (2014), o letramento escolar usado como parâmetro para classificar aptidão é algo arbitrário, na medida em que ignora outras inserções sociais, como família e igreja, que muitas vezes tem mais importância na vida dos sujeitos.
Essa concepção de letramento teorizada por Street (2010) é referenciada como modelo ideológico. O autor propõe dois modelos de analise para letramento, modelo autônomo e o ideológico. No modelo autônomo pressupõe que a escrita seria um produto completo em si mesmo, que não estaria presa ao contexto de sua produção para ser interpretada. Enquanto o modelo ideológico não tenta negar a habilidade técnica ou aspectos cognitivos da leitura e da escrita, mas sim entendê-los como dentro do todo cultural e em estruturas de poder.
Street (2014) aponta que o uso do termo “ideológico” para descrever a abordagem, em vez de “termos menos contenciosos ou carregados como “cultural”, “sociológico” etc., porque ele indica bem explicitamente que as práticas letradas são aspectos não só da “cultura” como também das estruturas de poder” (STREET, 2014, p. 172). E acrescenta que a ênfase de tantos autores na “neutralidade” ou “autonomia” do letramento é ideológica por que mascara essa dimensão de poder.
Em consonante com a pesquisa em desenvolvimento, Street (2014) observa que relatos etnográficos de letramento farão emergir, de fato, essa importância do poder, da autoridade e da diferenciação social em termos da interpretação desses conceitos pelo pesquisador. Contudo, continua, a etnografia por si só não é uma solução mágica para o “problema” de investigar o letramento, desse modo indica que sem clareza teórica a investigação empírica do letramento, o pesquisador apenas reproduzirá os próprios preconceitos.
Para coleta de dados da pesquisa, será utilizado o método etnográfico, em que as aulas da turma de PFOL serão observadas e terão o áudio gravado, assim como também serão realizadas entrevistas semiestruturadas individuais com os alunos e professor (a) do da turma a ser acompanhada. Desta forma, durante a análise dos dados coletados não é pretendido trabalhar com generalizações, mas os analisar a luz do contexto social em que estão inseridos e de acordo com a bibliografia selecionada previamente. Ainda, sobre a coleta de dados, Moita Lopes (2013) propõe olhar o sujeito a partir das “suas pequenas narrativas e não as grandes narrativas, construídas à custa do apagamento de quem somos localmente ou das histórias que não se adequam a ou não cabem em uma narrativa padronizada hegemônica” (MOITA LOPES, 2013, p. 232).
Por fim, pretendemos com a presente pesquisa contribuir com a produção cientifica no campo dos estudos sobre práticas letradas no Brasil, em especial no contexto do português para falantes de outras línguas (PFOL). E para além das questões de caráter linguístico, percebemos a importância em pensar o papel da Universidade pública como criadora de políticas de inclusão, em especial na área da educação.
E acreditamos que a pertinência da presente pesquisa em desenvolvimento também está na emergência em entender o contexto social em que migrantes com visto humanitário estão inseridos no Brasil, mais especificamente na cidade de Curitiba e Região Metropolitana, a partir da Linguística Aplicada como forma de percepção da inclusão social através da língua na dinâmica do cotidiano.

Palavras-chave: Práticas de Letramento, Multilinguismo, Identidade 



Referências Bibliográficas:

BLACKLEGDE, Adrian; PAVLENKO, Aneta. Negotiation of Identities in Multilingual Context. Multilingual Matters, 2014.

GERALDI, J. W. Linguagem e identidade: breve nota sobre uma relação constitutiva. Ciência & Letras, Porto Alegre, nº 49, p. 9-19, 2011.

KLEIMAN, Ângela, Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: KLEIMAN, Ângela (Org.). Os significados do Letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1995. p. 15-61.

HALL, Stuart. Identidade Cultural e Diáspora. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 24, p.68-75, 1996.

___________. Identidade Cultural na Pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu e Silva e Guacira Lopes Louro, 11ª ed. Rio de Janeiro. DP&A, 2006.

____________. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 14ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 103-133.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2010.
STREET, Brian. Os novos estudos sobre o letramento: histórico e perspectivas. In: MARINHO, Marildes, CARVALHO, Gilcinei Teodoro (Orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte, MG: Editora UFMG, 2010. p. 33-53.
______________. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. Trad. Marcos Bagno. 1ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
______________. Eventos de letramento e práticas de letramento: teoria e práticas nos Novos Estudos de Letramento. In: MAGALHÃES, I. (org.). Discurso e práticas de letramento: pesquisa etnográfica e formação de professores. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012. p. 69-107.


OS EFEITOS DA IDEOLOGIA LINGUÍSTICA DE UM PROCESSO
COLONIZADOR NA POLÍTICA E PLANEJAMENTO LINGUÍSTICA DA
GUINÉ –BISSAU

Rachido Djau
Mestrando em estudos linguísticos - UFPR
Orientadora: Cloris Porto Torquato

RESUMO
Minha comunicação visa discutir questão da ideologia linguística presente na política e
planejamento linguística da Guiné –Bissau, considerando os efeitos ideológicos de um
processo colonizador, a imposição de ideias linguísticas vigentes na metrópole e um
ideário colonizador que entrelaça língua e nação em um projeto único. Em termos
demolinguístico, o pequeno país conta com 1,7 milhão de habitantes, mais de duas
dezenas de grupos étnicos e são faladas cerca 20 línguas autóctones.
No período imediatamente pós-guerra de libertação nacional (que culminou com a
independência do país face ao jugo colonial – 1973), a situação do país agravou-se
devido à imposição da língua Portuguesa como oficial em detrimento do Crioulo (a mais
falada) e das demais - realidade complexa que proporciona ( nos limites do Estado)
descompasso entre realidade concreta (contexto plurilíngue e/ou pluriétnico) dos
guineenses e política e planejamento linguística estabelecida nos moldes da lógica de
monolinguismo unificador, ocasionando preconceito linguístico, reproduzindo
dominação, criando hierarquia de status (fixação de lugares hierárquicos definidos nas
relações sociais através da língua), opressiva tendência glotofágica, excluindo os que
não são alfabetizados em língua portuguesa, não a dominam, e principalmente
apagando as diferenças e/ou diversidades (sociolinguística, cultural e étnica) do país
(desde período colonial, perpassando o momento pós-colonial e até os dias atuais).
Dessa forma, percebe-se que a elaboração e aplicação de ações políticas sobre as
línguas no país foram baseadas nos moldes de política e planejamento linguística típico
da construção narrativa de Estado – nação moderna, isto é, os princípios que norteiam
política e planejamento linguística plural e inclusiva (que contemple multilinguismo)
foram excluídas (como foco de discussão) na agenda política do Estado – nação
guineense – o que vale ressaltar necessidade de desenvolver discussão que leva em
conta complexidade do país,
isto é, cultivar consciência sociolinguística que envolve
questões socioculturais, políticas e históricas atravessadas pela linguagem,
conscientização crítica sobre seus usos, isto é, discuti-las à luz de um desenho mais
amplo de política e planejamento linguística plural e inclusiva, principalmente a que
reconhece as forças ideologias presentes na constituição dos discursos ou que moldam
discussão do fenômeno linguístico, pressupondo reconhecer
relevância da discussão
de política linguística inclusiva nos ambientes multilíngue / nas sociedades aloglota, a
relação de dominação e poder inscritas na intervenção sobre relação entre as línguas,
as línguas e os sujeitos (não derivados nos ideais da modernidade) e os usos
socialmente configurados.
PALAVRAS CHAVES: Ideologia linguística; Política e planejamento linguística; Estado
– nação colonial;

ASPECTOS SEMÂNTICOS E SINTÁTICOS DAS ORAÇÕES COMPARATIVAS

Palavras-chave: orações comparativas; conectores de comparação; estruturas de subordinação e de coordenação
Linha de pesquisa: Estudos gramaticais: Descrição, Análise, Teoria, Meta-Teoria e Historiografia
Nome do autor: Vitor Rodrigo Diniz
Nome do orientador: Prof.ª Dra. Patricia de Araujo Rodrigues
Nome do debatedor ou mediador: Prof.ª Dra. Maria José Gnatta Dalcuche Foltran
Há muita controvérsia na literatura sobre o estatuto sintático das orações comparativas. A gramática tradicional classifica-as como orações subordinadas adverbiais comparativas, porém, estudos mais recentes mostram que há argumentos sintáticos que indicam que esse tipo de oração tem semelhanças com as orações coordenadas.
O objetivo principal desse trabalho é tentar reunir esses argumentos e, a partir deles, tentar estabelecer critérios semânticos e sintáticos para poder identificar uma oração de natureza comparativa. Várias questões estão ligadas ao tema: as construções de grau, que envolvem, além das orações comparativas, as construções superlativas, as orações consecutivas, as orações conformativas e as orações proporcionais (estas duas últimas também são chamadas de orações comparativas correlativas); o processo de elipse; as estruturas de subordinação e de coordenação; outros tipos de estruturas comparativas, etc. De certa maneira, o intuito desse trabalho é tentar responder às seguintes questões: O que são as orações comparativas? Quais são os estatutos gramaticais que regem essas orações?
São consideradas orações comparativas prototípicas as construções que têm um item lexical designando quantidade ou grau no primeiro termo da comparação e um conector que estabelece uma comparação entre duas expressões linguísticas no segundo termo da comparação. Em português, usam-se mais ... (do) que para o comparativo de superioridade (1), menos ... (do) que para o comparativo de inferioridade (2) e tão/tanto(a/os/as) ... como/quanto para o comparativo de igualdade (3), sendo que a forma tão é usada diante de adjetivos e advérbios e as formas tanto(a/os/as) são usadas diante de nomes e verbos.
(1) O Pedro é mais aplicado (do) que o irmão.
(2) O Pedro é menos ambicioso (do) que a Ana.
(3) O Pedro é tão alto como/quanto o pai.
O grau é uma variável que afeta o significado de certos grupos dentro das classes dos adjetivos, dos advérbios e dos verbos. A aplicabilidade desta variável depende de o significado das palavras envolver ou não uma propriedade escalar ou graduável. Assim, por exemplo, alto e baixo são adjetivos graduáveis, porque o seu significado envolve a escala de altura, mas municipal e nuclear não são adjetivos graduáveis, pois não podem ser medidos por uma escala e, por isso, a comparação não é bem sucedida, como podemos ver em (4):
(4) *Esta assembleia é mais municipal do que a anterior.
Além dos adjetivos, os advérbios e os verbos também devem ter uma natureza graduável para que a comparação possa se realizar. Por exemplo, o advérbio depressa é graduável, porque o seu significado está associado à escala de velocidade (5), enquanto diariamente não está associado a nenhuma escala (6); o verbo emagrecer também é graduável, pois está associado à escala de peso (7), enquanto nascer não envolve nenhuma escala (8). O teste abaixo é utilizado para sabermos se uma palavra é graduável ou não:
(5) Ele estava conduzindo [muito depressa].
(6) *Ele fala [muito diariamente] com a Ana.
(7) A Ana [emagreceu muito].
(8) *O Paulo [nasceu muito].
As escalas permitem identificar quantidades, sejam quantidades específicas (graus concretos das escalas), como o exemplo (9), em que se identifica um ponto na escala de altura, sendo esse ponto identificado pela expressão 1,90 m e o domínio de quantificação identificado pela palavra altura, sejam quantidades vagas, como se verifica em (10), em que a forma adjetival alta identifica o domínio de quantificação e muito identifica um grau da escala de altura. Nos dois casos, é possível identificar uma quantidade, que corresponde a um grau numa escala, quer seja uma escala de números inteiros, quer seja uma escala não digital. Em (9), o ponto é identificado com precisão, e, em (10), o grau é referido de uma forma vaga, isto é, a frase significa que o grau de altura de Ana se situa numa dada zona da escala de altura, mas esse grau não é identificado com precisão.
(9) Precisamos de um atleta com 1,90 m de altura.
(10) A Ana é muito alta.
Como podemos ver nos exemplos abaixo, a omissão do primeiro termo de comparação das orações comparativas de superioridade (11) e de inferioridade (12) provoca inaceitabilidade. O mesmo não ocorre com as orações comparativas de igualdade (13), pois, ainda que seja omitida, a palavra de grau/quantidade de uma comparativa de igualdade parece se encontrar implicitamente presente.
(11) *O Pedro é aplicado (do) que o irmão.
(12) *O Pedro é ambicioso (do) que a Ana.
(13) O Pedro é alto como/quanto o pai.
Apesar de a omissão do primeiro termo de comparação das orações comparativas de superioridade e de inferioridade provocar inaceitabilidade, nos exemplos seguintes, ele é incorporado a uma palavra graduável, gerando uma outra palavra: em (14), melhor é interpretado como mais bom; em (15), melhor é interpretado como mais bem; em (16), pior é interpretado como mais mau; em (17), pior é interpretado como mais mal; em (18), maior é interpretado como mais grande; em (19), menor é interpretado como mais pequeno. Neste trabalho, gostaria de dar um pouco mais de atenção a essa questão.
(14) As maçãs são melhores do que as uvas.
(15) Ele trabalha melhor em equipe do que sozinho.
(16) Há coisas piores do que isso.
(17) Os computadores que tínhamos funcionavam pior do que esses.
(18) A sala é maior do que o escritório.
(19) Ele comprou um carro menor do que o que ele tinha.
Os exemplos abaixo são de orações comparativas? Também há omissão do primeiro termo de comparação? O foco da comparação incide sobre o grau de intensidade de uma propriedade ou estado de coisas ou sobre a quantidade das entidades referidas?
(20) ?Ele comprou um carro menor do que ele tinha.
(21) Ele acha que este mercado deve funcionar como qualquer outro.
(22) Os atores movimentavam-se como se fossem manipulados por um ser invisível.
(23) O trem apareceu deslizando como uma serpente.
Mateus (2003) destaca apenas os conectores prototípicos de comparação (como e (do) que) e deixa de lado outros que são referidos por Cunha e Cintra (1984: 583): tal ... qual, assim como, bem como, como se, que nem. Neste trabalho, quero me ater mais a esses conectores que veiculam uma noção de comparação.
A proposta principal desse trabalho é explorar mais essas construções comparativas que são deixadas de lado e que, a meu ver, têm muito a contribuir para a própria natureza da comparação, tentando buscar, nas teorias semânticas disponíveis, as possíveis estruturas sintáticas das construções comparativas.
Referências bibliográficas
MATEUS, M. H. M. et al. Gramática da Língua Portuguesa. Caminho Lisboa, 2003.
RAPOSO, E. et al. Gramática do Português, vol. I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.























[1] Althusser em Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado define que a tradição Marxista concebe o Estado como Aparelho repressivo, que exerce uma força de execução e de intervenção repressiva a serviço das classes dominantes. Veremos mais sobre isso na próxima seção.
[2] Há quase 50 anos, o partido Baath governa a Síria. O país foi liderado por 30 anos por Hafez al-Assad e desde julho de 2000 é governada pelo seu filho, Bashar Al-Assad, o qual proibiu a criação de partidos de oposição, assim como a participação de candidatos de oposição nas eleições. Diante disso, em março de 2011, iniciou-se um movimento contra o regime de Bashar Al-Assad, juntamente com a Primavera Árabe, momento em que cidadãos da Tunísia, Líbia e Egito demonstraram revolta contra seus governos. O movimento que se iniciou de forma pacífica teve manifestantes reprimidos de forma bruta a partir de agosto, o que gerou uma luta armada. O governo de Assad controla as grandes cidades e as estradas utilizando a fome e a miséria como principal estratégia, o que contribui de forma significativa para o caos no país. Em 2012, a Cruz Vermelha e a ONU classificaram os conflitos como Guerra Civil.
[3] O nome do menino foi escrito de distintas formas na mídia. Neste trabalho, aparecerá como Aylan Kurdi, pois assim foi divulgado de forma oficial quando a criança foi reconhecida.
[4]Trata-se, neste trabalho, o episódio ocorrido na sede do Charlie Hebdo como atentado considerando que assim foi chamado/discursivizado pelo campo midiático. Ressalta-se que não está em mérito o juízo de valor sobre a relação entre a ação e a reação, mas o fato de que varias pessoas morreram na ocasião.
[5]Disponível em: <http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Agora-eu-nao-sou-mais-Charlie-Hebdo/6/35326>. Acesso em: 30 out. 2016.
[6] “[...] toda sequência discursiva deve ser apreendida enquanto objeto tomado num processo discursivo de reprodução/transformação dos enunciados no interior de uma dada FD” (COURTINE, 2009, p. 84).
[7] Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/opiniao-2/oliver-quem-e-aylan-Kurdi/>. Acesso em: 30 out. 2016.
[8] Disponível em: <http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/O-pequenino-afogado-Ayslan-Kurdi-nos-faz-chorar-e-pensar/5/34422>.  Acesso em: 30 out. 2016.
[9] Disponível em: < http://www.ricardosetti.com/ataque-covarde-e-sanguinario-contra-revista-satirica-charlie-hebdo-na-franca-e-o-maior-atentado-contra-a-imprensa-na-europa-desde-a-ii-guerra-mundial-e-priva-os-franceses-de-quatro-genios-do-cartu/> . Acesso em 30 out. 2016.
[10] Disponível em: < http://cartamaior.com.br/?/Coluna/Je-ne-suis-pas-Charlie-eu-nao-sou-Charlie/32598>. Acesso em 30 out. 2016.
[11]bpilati@gmail.com
[12] “according to Grice, interactants figure out what others are meaning, although not necessarily saying, in a principled way, based on normative expectations about communication”.
[13] Original: "English is not one but, instead, many languages, which find their functional range in the cultures, traditions, and needs of the communities that they serve. (…)The use of ELF is one of many functions that English performs in today’s society" (MATSUDA E FRIEDRICH, 2010, p. 21)
[14] Original: "[t]he form of this English is negotiated by each set of speakers for their purposes. The speakers are able to monitor each other’s language proficiency to determine mutually the appropriate grammar, phonology, lexical range, and pragmatic conventions that would ensure intelligibility" (CANAGARAJAH, 2007, p.925)
[15] Original: "from the semiotic resources available to speakers, who are always embedded in localities" (PENNYCOOK, 2008, p. 30.7)
[16] Original: "[t]he term 'content analysis' (…) defines the process of summarizing and reporting written data - the main contents of data and their messages" (COHEN, MANION & MORRISON, 2011, p.563)
[17] As sentenças em questão foram extraídas do experimento piloto apresentado por Cursino e Figueiredo Silva (2016).
[18] De acordo com DeGraff (2007), com verbos não-estativos, a partícula ap denota o aspecto progressivo ou habitual. Já diante de verbos estativos, marca futuro ou incoatividade.
[19] No original: In the past, most educators agreed that teaching literature was a way of making people better human beings and better citizens.
[20] Mestranda em  Pragmática pela Universidade Federal do Paraná.
[21] Patterns that are not present are not learned and thus are generally judged to be unacceptable, while patterns with a high type frequency are rated as the most acceptable by speakers (tradução nossa).